quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
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domingo, 6 de dezembro de 2009
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
sábado, 28 de novembro de 2009
sábado, 21 de novembro de 2009
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Ao contrário deles, elas sabem de tudo, mas jamais confessam! Fingem ser normal o elástico marcando a pele eriçada. Sabem que alguns deles não tem controle algum diante do que existe debaixo das camadas de restrições protegidas por meias e anáguas. Sabem o quanto isso representa para eles, um matadouro, um fado avermelhado de onde não há nenhuma possibilidade de se escapar. Não há forças para recusar tanto apelo fingindo não ser apelo, nem para evitar o estrangulamento passivo da boa morte em expiação, a procissão voluntária em direção ao sacrifício. Simplesmente não existe lei que remova isso deles, portanto, não há menino que não necessite de salvação.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
_ Vem cá! Que houve? Cê ficou puto com o que agora?
_ Eu não tô puto, só cansado desse papo! Eu preciso ir pra casa agora.
_ Tá bom, eu paro! Fica aqui...
_ Sempre que eu penso que a gente tá bem, que tá dando certo, vem você inventando um problema.
_ Desculpa vai... já disse que parei.
_ É que eu acho besteira ficar nessa! Por que a gente não pode fazer como todo mundo, relaxar e deixar rolar? Namorar sem essa de ficar “por que isso”, “por que aquilo”. Por que tem que ficar procurando nome pra tudo, definição pra tudo, pô? A gente tá junto, ta legal, você parece que gosta, sinto sua falta, te ligo todo dia, e mesmo não concordando, topei sem reclamar a tua condição de morar em casa separada. Tá faltando o que agora?
_ É essa história de falar “eu te amo”.
_ Cacete! Já vai começar? Qualé? Que tá pegando?
_ O lance é comigo, nada com você. Fico achando que ficou meio comum demais sair falando “eu te amo” pra toda pessoa legal que a gente encontra na internet e pela net quase todo mundo é maravilhoso. Sem querer a gente vê um gatinho no Facebook duma amiga, acha ele interessante, adiciona e depois começa de papo pelo MSN e logo passa pro Skype, quando vê, já tá achando que ama o cara!
_ Já vem você outra vez!
_ Calma, me escuta! É importante! Essa facilidade que a net dá de sair falando “eu te amo” só porque um cara parece legal, porque é gostoso passar umas horas teclando com ele, tem me feito pensar numa porrada de coisas. Todo mundo anda assim agora, toda semana adiciona um alguém que na hora parece legal e depois bloqueia quando descobre que não era tão legal. Toda hora aparece um cara manero, você adiciona, fica ansiosa pra chegar a hora dele ficar on line e assim vai!
_ Devo pensar o que te ouvindo agora? Que tua escolha por mim tá ficando afetada por causa de uns caras na sua lista de contatos?
_ Não tá! Mas fico me perguntando, será que a gente não ta junto por falta de opção? Quem garante que você não vai encontrar hoje ainda no seu Orkut uma garota que você acha que tem mais a ver contigo do que eu? E se eu encontrar um outro cara no MSN e começar a achar que tô gostando menos de você?
_ Às vezes conversando com as meninas, a gente fica falando sobre os caras que teclamos pelo no MSN, elas sempre falam de alguém assim ou assado. Caras que elas conversam com certa regularidade na internet...
_E vc também faz isso...
_ Você quer que eu minta? Então fico vendo a Karina e o Dé, indo pro segundo ano de casamento, tão apaixonados, exalando cumplicidade como a gente vê quando saímos juntos com eles, lembra? A Karina tecla com um indiano que mora em Boston e fala dele com uma coisa que sei lá! Vejo a Teresa Poll, que se declara louca pelo Gustavo que é capaz de matar por causa dela. Ela também flerta no MSN quando tá no trabalho ou em casa, por celular. Dizem que fazem isso por diversão! Só a Lucila que eu acho que tá indo as vias de fato com um cara, mas ainda assim, fala que não vive sem o Murilo.
_ O lance pro cê também é diversão?
_ Claro que é, mas ultimamente tem me feito pensar se quando a gente diz “eu te amo” pra alguém, isso não acaba virando com o tempo, um tipo de saudação, um cumprimento, uma coisa dita só pra prender a pessoa que tá contigo enquanto se experimenta tantos outros. Se não gostar fica-se com o que já tá, mas se gostar do outro, simplesmente se troca! Falar “eu te amo” antes de deitar pra um e na manhã seguinte, fala a mesma coisa pro outro na internet.
_ Cê anda falando muito “eu te amo” pra alguém na net?
_ É esquisito, mas não tive vontade ainda, acho que se falasse não seria no mesmo peso que tem quando eu falo pra você! Mas tenho ouvido muito e quando ouço penso no quanto isso parece bobo sendo dito assim por tão pouco, por alguém que nem teve como presenciar no dia-a-dia os meus piores defeitos! O engraçado é que também acho que viver fora do virtual, na real, com alguém todo dia, estar transando e gostando dessa intimidade, pensar nela varias vezes durante o dia, também não garante nada. Estar numa relação considerada por ambos como perfeitinha não impede ninguém de querer experimentar uma outra!
_ Não?
_ Pois é! De uns tempos pra cá tenho achado que não é tão simples assim! Acho que pra ser alguma coisa de verdade, é preciso que cada um perca alguma coisa que gosta muito. Acho que essa coisa que se precisa voluntariamente jogar fora é a facilidade que temos de ultrapassar a barreira da nossa própria fantasia, e fingir esquecer que estamos sob um compromisso de amor, e ficar ou transar escondido com um outro, por tesão ou a curiosidade, mesmo com uma certa culpa depois. Tenho achado que pra gente falar de boca cheia que ama alguém de verdade, é preciso jogar fora essa “liberdade”. Jogar fora sem deixar o companheiro saber que jogou. Fazer isso não por causa dele, mas por você próprio! Não to falando de dar a alguém prova de fidelidade, isso é babaquice, não acredito nisso, as pessoas simplesmente mentem quando querem muito uma coisa que não deveriam querer, subvertem esses acordos de boca, de cartório ou de igreja. Então se decidir jogar essas “oportunidades” fora, é legal que o outro nunca saiba, senão estraga tudo. Vejo isso, uma decisão absurda e solitária um desafio sem muito sentido contra si próprio, só para mostrar a você mesmo que é capaz de fazer algo que está além dum acordo comum de fidelidade.
_ Cê é foda criatura! Cruz credo, completamente pirada!
_ Não precisa me dar a sua opinião sobre isso. Não quero!
_ Não me contou tudo isso pra depois me perguntar com quem eu flerto no MSN ou no Skype? Pra me testar e jogar um verde pra me fazer confessar se transo escondido com outras só pra experimentar, pra variar, fugir da rotina ou só porque eu sou homem? Por farra?
_ Não.
_ E por que não?
_ Porque não quero que você se sinta forçado por esse papo a ter obrigação de me falar a verdade ou simplesmente mentir, só pra não me machucar.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Capitu – Ná Ozzetti
Choveu – Beto Guedes
Duvida Cruel – Chico Cesar
Fitter, Happier – Radiohead
Frozen – Madonna
Tropicália (2) – Caetano e Gil
Inverno – Adriana Calcanhoto
Guitarra - Madredeus
New Soul – Yael Naim
Acabou Chorare - Novos Baianos
O céu – Marisa Monte
Olho de Peixe – Lenine
Pêndulo – Egberto Gismonti
Suburbia - Pet Shop Boys
Pigs on The Wind – Pink Floyd
Reprocissão - Chico Cesar
Ultimo Por-do-Sol – Lenine
Vanish Point (trilha do filme) J.B. Pickers
Voo de Coração – Ritchie
Zazulejo – O Teatro Mágico
terça-feira, 10 de novembro de 2009
domingo, 8 de novembro de 2009
Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais, Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar.
UNDERCODE
Ao decodificar um velho manuscrito
O monge que duvida apenas cumpre um rito
Aos crédulos, diz: crede, pois eu creio!
Mas em silêncio fala consigo; é tudo mito.
SANTA TERESA
Meu êxtase é fogo sagrado
Me consome em dor e sabor
Me arde acre e adocicado
TOTEM E TABU
Se um Deus fez tudo que pode ser tocado
Então por que o pau não é sagrado?
Por que é profano falar siririca,
Pica, punheta, porra, boceta?
Por que os ícones da morte
São pendurados no pescoço
E os da vida... trancados na gaveta?
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Quanto a ser ele solitário e viver distanciado do afeto dos amigos por conta de um constante estado ruim de humor, sinceramente não creio, em vista do testemunho que esses mesmos amigos deixaram registrado. É fato que Quintana, era sim solteiro sem filhos e que morou sozinho por anos a fio num quarto de um luxuoso hotel em Porto Alegre. O dono gostava tanto dele, que lhe cedeu o cômodo por tempo indeterminado, sem cobrar um tostão pela diária e com refeições incluídas. Diferente do que acontecia com o Drummond ou o Vinicius, que eram aposentados do serviço público e muito bem remunerados, Quintana contava com a vaquinha dos amigos para estar sempre com alguma graninha no bolso. Depois que o velho Hotel Majestic encerrou as atividades para virar a rosada Casa de Cultura Mario Quintana, outra moradia teve de ser providenciada. Foi então que Paulo Roberto Falcão, ex-jogador da seleção brasileira, ídolo do “Inter” de Porto Alegre, amigo, admirador, além de proprietário do Hotel Royal, cedeu a Quintana um novo quarto. Novamente o poeta que morava sozinho, mas não era solitário, vivia num hotel com direito a refeições e sem precisar pagar diária. Assim, ele que certamente tinha muitos problemas, também teve alguns deles resolvidos com uma ajudazinha de alguns amigos.
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
terça-feira, 3 de novembro de 2009
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
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Há um livro muito "cabecinha" sobre o significado de “cuidar de si próprio” com base no individualismo do autoconhecimento.
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Meu olhar se rendeu ao "novo jeito de filmar" pela primeira vez com “Blair Witch Project”, lá pelo finzinho dos anos 90. O filme rodado em digital da primeira geração, foi tratado na pós para parecer com imagens feitas no finado sistema VHS. Vale lembrar que ainda estávamos vivendo no paraíso das populares câmeras compactas caseiras de vídeo (VHS) e o público estava mais que familiarizado com aquela baixa qualidade de imagem. Pouca gente percebe, mas outra grande mudança que o digital incorporou está na linguagem, no posicionamento da câmera (mais leves, dispensam o uso de tripé), na iluminação e principalmente na estrutura dos roteiros que tendem a conter diálogos imitando o jeito coloquial que falamos no dia-a-dia.
Atualmente, a novíssima geração de câmeras digitais e softwares de edição estão gerando imagens de altíssima definição superiores até a qualidade de pontos por definição das antigas câmeras óticas. Tudo que sai de Hollywood hoje em dia mostra o que uma Panavison digital de milhares de dólares é capaz de fazer. Pra mim isso é uma pena, porque alta definição é exatamente o contrário de tudo o que eu busco num digital. Depois de “Bruxa de Blair”, o trabalho que, na minha opinião, mais faz justiça ao usar o formato com originalidade, reunindo o que ele tem de melhor, tratado com habilidade sobrenatural ao mesclar efeitos visuais de primeira linha, narrativa de documentário e um roteiro duka é o inacreditável “Cloverfield”, de 2008, cultuado com fervor entre os amantes do formato.
A seguir alguns petiscos em "digital sujo" para quem tiver a fim de experimentar e se lambusar;
Cloverfield
http://www.youtube.com/watch?v=IvNkGm8mxiM&feature=fvw
This is England
http://www.youtube.com/watch?v=H0jkv2bRFgQ
Mutum
http://www.youtube.com/watch?v=Ob2j29lZUog
Contra Todos
http://www.youtube.com/watch?v=s2-LDB9tu9o
Pieces of April
http://www.youtube.com/watch?v=pQ36CnCL3OE
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
domingo, 18 de outubro de 2009
"Tratado do Amor Cortês", escrito na Europa no século XII por André Capelão,
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Para todas as criaturas que vivem e morrem debaixo do sol, todos os dias são domingo e todas as horas são; agora, menos para nós, que somos homo e sapiens. A natureza tem lá os seus ciclos, mas hoje os achamos uma chatice, a prova disso é que depois de passarmos algumas eras sob o ritmo moroso da natureza, ficamos de saco tão cheio que demos até um nome para tudo isso; tédio.
Parece que foi depois de começarmos a olhar para o céu e a ter consciência da passagem do tempo, que começou nossa piração de querer contá-lo do nosso próprio jeito. Para garantir que dias e noites “parassem” de passar com a vagarosidade costumeira deles, dividimos os dois únicos períodos que conhecíamos até então, o claro e o escuro, em pequenos fragmentos numerados. Pode ser que seja baseado nesses números que cada povo inventou uma definição do que é ganhar ou perder tempo! Talvez a idéia no começo fosse ficar livre do ócio, que é ter pouco ou nada para fazer, e do tédio, que é estar completamente convencido que o tempo não passa.
Para complicar, começamos catalogar e dar nomes para a percepção dos efeitos que a passagem desses ciclos costumam causar em nosso corpo e na imagem que isso parece aos outros. Para tentar escapar daquilo que chamamos pasmaceira, inventamos uma rotina de quefazeres que repetimos metódica e diariamente como indispensáveis a vida. Mas e os quepensares? Quepensares não, pois além de só servirem para mandar Nietzsche pro hospício, não são muito eficazes contra a falta de quefazeres.
Contar o tempo serve também para nos manter presos tanto às lembranças do que passou, quanto à expectativa do porvir. Essa obsessão em estar atracado ao o passado e querer inutilmente saber como será o futuro, não nos deixa perceber que viver mesmo só é possível no agora, e um segundo de cada vez, equilibrando-nos sobre um fio de incontroláveis incertezas. É uma dança solitária e cega na ponta de sapatilha sobre a lâmina afiada do acaso.
Já os bichos, que segundo a nossa visão antropocêntrica, não são nem homo e nem sapiens, lidam com o tempo sem dar a mínima para agendas, compromissos, minutos, cronogramas, atrasos. Viver essa vidinha simplista é muito pouco para nós! Precisamos de complicação! Talvez tenha sido por isso que não aguentamos ficar muito tempo na boa como bonobos, trepando o dia todo, espreguiçando, catando piolhos e carrapatos nos pelos uns dos outros. Isso era ócio demais para aquilo que no futuro a gente iria fazer
Então é isso, entre um verão e um inverno há semeadura, há colheita, guerras étnicas, menstruação, fases da lua, casamentos, imolação de virgens para garantir fartura. Somos a formiga e a cigarra que Deus ajuda sempre que uma delas decide madrugar, mas também somos mão-de-obra barata, somos holerite, mais-valia, Karl Marx, Wall Street, escravidão, Henry Ford, Visa, vinte e oito dias, Nasdaq, o aluguel do apartamento atrasado e por último, somos pura culpa quando nos sentirmos ocasionalmente entediado ou pior; ociosos. Os almanaques, afirmam que a preguiça é um dos Sete Pecados Capitais, e que é Deus quem leva o credito pela invenção do trabalho, ao passo que para fins de causa e efeito, fica em qualquer cabeça vazia, o endereço da oficina do Diabo! O resto veio no vácuo e nem mesmo depois que aquele italiano teorizou sobre um tal; “ócio criativo”, a gente sossega! Por falar nisso, esse mês tem feriadão, que é quando todo mundo combina de desfrutar o ócio sem culpa, mas aviso; uma vez no ócio, sobra o tédio e como para ele não há remédio, resta-nos secretamente torcer para que o feriado passe logo para voltarmos à velocidade das coisas que já estamos viciados.
“Ticking away the moments that make up a dull day”
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
A diminuição da dor nos olhos tornou possível entre outras coisas, abri-los um pouco mais para perceber melhor o lugar e a movimentação intensa dos homens de branco. Um deles se aproxima e vira minha cabeça um pouco para o lado. Pude sentir um aroma agradável de algo sendo refogado em azeite e alho. Isso me fez perceber melhor não apenas que tipo de lugar era aquele, bem como o que realmente estava acontecendo. Também não demorou muito para o homem de branco se aproximar novamente da minha cabeça, desta vez com uma lâmina de inox numa das mãos. Estranhamente comecei me lembrar de tudo. Fui tomado por uma lucidez mórbida diante do pouco tempo que sabia que já não tinha. Tempo insuficiente para fazer mais perguntas, demonstrar medo ou horror, mas o bastante para saber que tão logo o cutelo do sous chef divida meus pensamentos em pequenos gomos bem temperados, o que restar do que eu fui, finalmente voltará ao escuro profundo e silencioso, onde eu residia em paz antes de ter sido dado à luz.
Ao Raul (in memoriam)
A CONFRARIA DOS FAUNOS (2005)
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Já fui um lobisomem juvenil. Significa que uma parte do que fui da juventude a até pouco tempo atrás, foi construída numa época em que estar ligado as causas (ideias) era considerado muito mais importante que estar ligado as coisas (gadgets). Isso porque um pouco antes da queda do muro, as pessoas dentro do meu circulo social viviam num Brasil romântico onde a ditadura militar já dava os seus últimos suspiros e por isso mesmo, achávamos que tínhamos vencido. Nessa época as ideias ainda chegavam a gente através dos livros de intelectuais europeus (em sua maioria), filósofos contemporâneos como Sartre e Focault, pelo contato com amigos engajados na UNE, estudando em universidades públicas e claro, pelas canções de protesto do Chico ou pela verborragia de Caetano, Gil e companhia. Tudo o que a censura não conseguia pegar, a gente “traduzia” e usava como um evangelho. Era tudo muito classe-média, muito suburbano, ingênuo e lírico como eram os Marighela e os Baader-Meinhof da vida. Anos mais tarde, depois que tudo aquilo acabou, eu tava vendo um programa do Abu e de repente ele soltou_ “Romântico tem mais é que se fuder”. Imaginem o Abujamra com aquele olhar feroz de Tiranossauro Rex vociferando isso para câmera?
Quando comentei a frase recentemente numa roda de amigos, acrescentando que ele tinha razão, quase fui linchado, não por ter pronunciado alguma heresia, mas porque esqueci que para alguns na mesa, romântico significava apenas ser alguém de “coração adocicado” vivendo uma aquecida paixão sazonal. Eu, no entanto, estava falando da outra definição do termo, falava do perfil ingênuo e em muitos casos, quase cego, de crédulos que morreram e ainda morrem em vão tentando dobrar no discurso, na bomba ou no fuzil, um sistema de coisas que não tá nem ai para a ideologia que alguém professa crer. Falava dos paladinos de hoje em dia, que seguindo o modelo de antigos mártires revolucionários, ainda gastam (de graça) suas vidas, sem buscar obter lucro, dedicando-se a lutar ideologicamente pelos párias de todos os guetos. Ainda hoje podemos ver alguns, distribuídos em “nanopartidos” fragmentados do “partidão”, que com as bocas cheias dum discurso marxista mofado, ainda tentam fazer prosélitos. Acreditam piamente sob o manto anacrônico de uma inocência pueril, que verdades, bondades, justiças e corações cheios de boas intenções são o que de fato fazem mudar o rumo social das coisas num mundo que nunca esteve tão corporativo. Não enxergam que são interesses, vantagens pessoais políticas ou econômicas, que giram as engrenagens de grandes mudanças sociais. Ah! O G-20 tem agora a voz da vez. Tem mesmo? Ah! O proletariado subiu ao poder na America Latina. Subiu mesmo? Basta uma lida superficial em “Animal Farm” do Orwell pra entender que certos fatores combinados, costumam empurrar qualquer revolução “bem intencionada” para aos pouquinhos, ir se prostituindo diante dos interesses de uma pequena confraria, bastando para isso, o uso hábil de algum carisma e meia dúzia de falácias populistas.
O fato é que cada desencanto trás no seu gosto a sensação de que “romântico tem mesmo é que se fuder”. Grito isso para mim toda vez que ainda uivo lembrando o quanto militei romanticamente em tudo que foi causa de esperar Godot. O mundo mudou e sempre vai mudar para que continue sob a guarda das mesmas castas. Parece que não importando a época, os ajuntamentos humanos nascidos das desigualdades sempre terão a forma de uma pirâmide que toca os céus. No topo; os mesmos, tomando “uma fresca” e bem mais abaixo, tomando na bunda, os românticos.
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
domingo, 13 de setembro de 2009
Paulo e Jean Garfunkel
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
A Idade do Céu _ Zélia Duncan
À Via Láctea _ Lô Borges
Anima – Milton Nascimento
Bad to the bone_ George Thorogood
Black Market _ Weather Report
Bring On The Lucie _ John Lennon
Céu de Brasília – Toninho Horta
Cordas de Aço – Cartola (ao vivo)
Deus – Sugar Cubes
Fora da Ordem – Caetano Veloso
Friday I´m In Love _ The Cure
Heroes _ David Bowie
Jokerman – Caetano Veloso
Jokerman – Bob Dylan
Maria Fumaça_ Banda Black Rio
Me Diga _ Nando Reis
Mestre Jonas – Sá, Rodrix e Guarabyra
Old World _ Dixie and Dregs
Planet – Sugar Cubes
Sweet Jane _ Velvet Underground
Wunderkind _ Alanis Morissette
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
18h45
_Que cara é essa?
_ Pensando...
_ Sobre...
_ Sobre como as coisas estão ficando diferentes...
_ É eu sei...
_ [ ... ]
_ Também não sei o que dizer. Às vezes penso que a culpa é minha, outras, que é sua.
_ Por que não, minha e sua?
_ Isso é o que todo mundo diz sempre, mas a gente sabe que tem alguém que dispara primeiro a pedrada do fim.
_ A gente ta no fim?
_ [ ... ]
_ Tamos?
_ Eu não sei... mas cê ta vendo como tá...
_ Eu tô com medo.
_ Medo de ser mesmo o fim?
_ Medo de descobrir que isso é tudo que eu tenho. Medo que você seja tudo o que eu tenho.
_ Me desculpa... eu não sei o que fazer, o que te falar...
_ Você quer ir?
_ Uma hora alguém tem que ir...
_ Você já tem pra onde ir? Ele é alguém que eu conheço?
_ Não há ninguém, juro.
_ Você tá dizendo isso pra não me machucar...
_ Não to não. Não há mesmo ninguém. Se tivesse eu contaria, cê sabe como eu sou.
_ É... eu sei...
_ Você é meu amor...
_ Sou?
_ É sim... acho que eu preciso quebrar um pouco a cara, me fuder um pouco. Você é maravilhoso, sempre compreensivo, maduro, ponderado, um companheiro... nossa vida é legal, eu curto a gente aqui... penso nisso e fico triste por estar agindo assim. Acho que eu quero uma coisa que eu não sei ainda. Às vezes penso que é alguém, uma pessoa nova, uma nova vida longe daqui. Fingir que eu sou outra, sei lá! Cê me perdoa?
_ Pelo o quê?
_ Por isso que eu não entendo.
_ Não esquenta. Eu sempre soube que às vezes todo amor do mundo não basta, mesmo um imenso como esse nosso, ainda assim, às vezes parece que não é o bastante.
_ [ ... ]
_ Querida, vou dar uma saída. Devo voltar só amanhã a noite. Se quiser levar pra você alguma coisa que era nossa, tudo bem. Leva a chave também se achar que deve.
_ [ ... ]
_ Olha só... depois que sair não deixa bilhete, e-mail, essas coisas assim... se puder não deixe nada seu, por favor. Nem roupas, objetos nem nada. Isso vai me ajudar. Promete?
_ [ ... ] Prometo
_ Então tá... te cuida.
_ Você também.