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Primeiro, pensei ter ouvido um soluço, depois juntei as sílabas e o que veio audível pela segunda vez, foi um nome sussurrado_ Elisabete. Amiga de muitos anos, das festas de aniversário dos nossos filhos, das férias juntos na casa em Maricá. Então em sussurros, sem demonstrar surpresa ou reprovação, o deixei perceber que meu corpo também se alimentava daquele estímulo. O ato prosseguia sem pressa e perguntei-lhe direto no ouvido se já tinham consumado o que até ali parecia ser só um desejo. Ele jurou que não. Que tudo não passava de um tesão contido, incapaz de ir além da própria vontade. Tomei aquilo como verdade, de fato era. Depois da confissão em sussurros, começou a se sentir seguro ao perceber não haver em mim, sinal algum de desaprovação. Com isso, o nome dela sempre aos sussurros soava cada vez mais alto no quarto e a noite seguia passando brilhosamente acetinada até ter o seu fim em um sono calmo, brando e quieto.
Na manhã seguinte, à mesa posta, o café, a margarina light, a cesta de pão, a leiteira e uma paz engomada sem uma só palavra apontada como pergunta pontiaguda ou cobrança. Mais tarde, já na cama, imaginei que o nome Pedro pronunciado num sussurro, planaria leve até o ouvido dele. Confesso; jamais vi um homem tão possesso! Pulou da cama com boca espumando, acendeu a luz e aos gritos, começou a me acusar de tudo. Vestiu a primeira coisa que viu pela frente, passou a mão na chave do carro e saiu como um louco àquela hora da madrugada. Até agora não voltou.