sexta-feira, 7 de maio de 2010

_ E daí? Depois de conquistarem alguns objetivos desejados, é comum alguns perguntarem isso, quer a si mesmos, quer a outros, quer verbalmente, quer em pensamento, quer ao divino, quer ao humano, quer tenham coragem ou quer não. A diferença desse tipo reflexão para outras formas mais frequentes é que o “e daí?” surge apenas quando tudo parece funcionar bem e se tem em caixa, respostas para solucionar satisfatoriamente quase todos os problemas comuns da normalidade cotidiana.
O “e daí?” assombra não o carente, o que está em dúvida, o que se sente privado, mas o provido, o que está ciente, o esclarecido, o suprido! Não se pergunta “e daí?” depois de nadar, nadar e morrer na praia e sim quando se alcança o topo, o Olímpo, depois da coroa de louros, da honrosa comenda, do título ganho após entregar o sangue em sacrifício sob ruidosos aplausos.
Será então o “e daí?” uma espécie de sentir-se mal quando tudo está bem? Será uma crise por ter passado com poucas dificuldades por todas as crises? O desconforto da certeza da segurança? E se não for isso? Mas se for... e daí?

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Às vezes é preciso forçar mesmo um jeito de tirar das costas um pouco do peso de tudo. Fiz isso no domingo passado ao estar com um grupo de amigos visitando o Parque Nacional do Itatiaia. A ideia era por algumas horas, largar de lado as coisas que naquele momento não poderiam ser resolvidas, então fiz desse tempo ali um caminho para uma fuga branda, limpa, apesar deste ser um dos outonos mais difíceis que já tive. Confesso que fiquei surpreso quando me peguei rindo a beça, numa espontaneidade que não sabia que ainda residia em mim. Dei gargalhadas com piadas bobas e lembranças de situações embaraçosas que apenas hoje parecem engraçadas. Com isso, passou manhã e veio tardinha, veio uma longa caminhada morro acima ouvindo um rugido gelado de cachoeira, veio pássaros que nunca vi, um pouco de monotonia, cansaço, mas em paz, sono e no final, veio uma vontade incontrolável de tomar sorvete em Penedo. Na volta, já dentro da noite, liguei o som numa rádio que gosto, mas que passei alguns anos sem ouvi-la. Enquanto os outros ainda conversavam, fiquei propositalmente mudo durante todo o trajeto ouvindo flashbacks. Dentro da minha cabeça, num espaço onde até sábado estava cheio de preocupações insolúveis, Ray Charles, Bee Gees, Donna Summer, Bread, Carpenters e muitos outros, se revezavam na tarefa messiânica de finalizarem meu domingo, como um dia de curas e outros pequenos milagres.