Um anúncio da revista ALFA prendeu minha atenção pelo trabalho de criação muito bem “briefado” e produzido. A mensagem aponta para uma publicação inteligente voltada para um “novo homem”, sensível, descolado, urbano, antenado. Daí eu pensei: pôoo!!! Que bacana! Comprei uma para conferir e percebi que não havia nela muita coisa diferente das outras revistas masculinas voltadas para o “clichê de sempre”, algumas publicadas até pela mesma editora da ALFA. Em resumo; mulher pelada, carro, futebol, brinquedinhos high tech, baladas, bebidas, roupas caras, ou seja, o mesmo velho papo de macho-alfa. Foi então que saquei o porquê do nome da revista.
Sexismo mode on. Para a ALFA, mulheres são coisas numa lista de coisas.
quinta-feira, 24 de março de 2011
Deixar de falar de forma relativa e inteligente sobre certos assuntos apenas porque são complicados demais, corre-se risco de deixar escapar uma oportunidade valiosa. A de contribuir para eliminar da vida, o apego ao senso comum como bússola e desenvolver um corajoso senso critico para poder questionar melhor as opiniões distorcidas pelo preconceito fundamentalista que se alimenta justamente da facilidade proporcionada pela adoção de uma visão simplista do mundo e das relações humanas.
“Sair do próprio eu é um dos sonhos mais inteligentes que o ser humano pode ter.” Trocando longas e deliciosas cartas sobre esse assunto com mademoiselle Donega, parece que concordamos que a partir da balzaquianidade, as asas precisam ser negras, grandes e fortes.
domingo, 20 de março de 2011
Ninguém sabe o que é solidão até que a violação de um tabu transforma o transgressor num tabu. Poucas pessoas sentiram isso tão forte na própria pele quanto Darwin. Nascido e educado numa família anglicana, casado com uma mulher de profunda convicção religiosa e devoção, ele literalmente adoeceu e definhou ao longo dos anos em que escrevia sua controversa interpretação da natureza. A dúvida era se devia mesmo publicá-la, pois sabia que isso certamente desagradaria todo um sistema estabelecido que ainda hoje sustenta para milhões de crentes os fundamentos de uma identidade humana.
O interessante nessa história, é que a idéia de uma ancestralidade animal não é original a Darwin, mas encontra-se presente na obra Zoonomia (1792) de seu avô, Erasmus.
Nossa parcela animal, o elo que nos liga à natureza é também uma visão comum nas epopéias e mitologias milenares. Talvez as menções mais antigas dessa associação de uma origem comum entre bichos e pessoas, datem do início da idade do bronze, com os cultos que buscavam identidade num animal totêmico como ancestral e originador das pessoas que o adoravam.
Convivemos há tanto tempo com esse animal-interior que sequer percebemos que alguns elementos totemistas estão presentes atualmente no pensamento islamico-judaico-cristão, exatamente como constam no folclore e lendas do imaginário popular de muitos povos.
Hoje à noite vou à festa de Babete refestelar-me numa mesa farta de vinho e vísceras! Na festa de Babete beberei todo meu passado e comerei todo meu futuro. Me autoconsumirei tão completamente, que nem a mínima sobra, servirá para contar alguma história.