sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Pretty Pretta, amiga em pixel e cronista talentosa, postou no ar poemas-breves. Ao cheirá-los lembrei do Antunes empoeirado que descansa em paz no meu relicário. Fiquei tão nariz comichado, que até soltei de leve, um poema-espirro.

SILENCIÓCIO / Enjoy the silence

Um/a amor/a
Que numa hora
Disse: vou embora...
Somente pelo que adora
É que faria agora
Farra sonora

2011



terça-feira, 25 de janeiro de 2011


Não conseguir enxergar-se como um ser completo e perceber-se apenas como “metade da laranja” é o drama central do Mito do Andrógino, uma popular fábula grega sobre uma criatura que se sente incompleta e só vê sentido na existência, quando conectada a uma figura externa transformando-se finalmente, numa única criatura que vive num mundo apartado de todo o resto, se alimentando um do outro. É bonito, embora alguns saibam que mesmo numa convivência diária aparentemente satisfatória, a presença física de alguém ao lado, não garante o fim da sensação de se estar só. A crença na ideia de que uma paixão externa é a única coisa que pode fornecer reais motivos para se continuar vivendo é o doce engano cometido por quase todos a vida inteira.





All is full of Love; Björk transa com ela própria e mostra que extrair amor de si mesmo pode não ser tão absurdo quanto parece.

Se a mendicância pela atenção e pelo afeto vindo do outro não fosse tamanha, e se isso não obstruísse os canais de percepção, muito mais pessoas se dariam conta de quanta satisfação poderiam extrair delas mesmas, fornecendo as razões necessárias para quase tudo na vida.
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Ao “desmontar” o mito do Andrógino em Eros e Psiqué, Fernando Pessoa usa no poema o mesmo título de outra conhecida fábula grega para sugerir que o culto ao amor-próprio pode ser satisfatório e determinantemente possível.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

É tentador ver a lua avermelhada agindo como fetiche sobre a velha estrada deserta. No entanto, naquele momento a urgência era estar em casa antes do sono. A música que durante todo trajeto rolava entre o play e repeat, dizia várias vezes que tudo ia ficar bem, mas era só uma canção feita para embalar uma época antiga onde “ficar tudo bem” era um conhecido mantra ingenuamente possível.
Quando se desloca assim tão rápido, basta um milésimo de segundo, para tudo o que se pensa ser, deixe de ser. Cada fragmento de tempo usado para atravessar uma rota de risco sem interrompê-la prematuramente, depende do dialogo que se tem com a sorte e com o acaso, saber deles sobre a possibilidade de te deixarem chegar, deitar na velha bicama e adormecer por algumas poucas horas, antes do sol aparecer para acordar todos os vivos.

Não me iludo. Tudo agora mesmo pode estar por um segundo! (Gilberto Gil)