domingo, 8 de novembro de 2009


Fico às vezes muito puto ao sentir que ainda há aqui dentro um leve resíduo da credulidade que somente agora considero apropriadamente uma doença. Por três décadas e meia, aproximadamente cuidei dela como um gentil, passivo e fiel jardineiro. Um Dom Quixote viajando num zepelim movido a todo tipo de engodo. Talvez tenha vivido isso, por possuir um solo fértil para o cultivo de fantasias, mesmo quando todo mundo sabe que delas só se colhem quimeras. Era como uma vocação e por perceber isso somente agora, é que me enfureço tanto quando começo a me lembrar do longo tempo que joguei fora tendo sido tão devoto. Já cheguei a pensar que a insônia que inunda a minha cama desde a infância, tenha propiciado certa facilidade para sonhar acordado e nesse sentido, fui perigosamente onírico pelo menos por três vezes nos últimos dez anos. A mais recente deixou esse grande corte que não fecha, sem falar na dor que está fora do alcance dos analgésicos, e que tem me forçado a encarar o solo como o lugar seguro que preciso me acostumar a viver daqui pra frente, até que pelo menos, tudo tenha cicatrizado. No momento, o que tem me servido de lastro, é o silêncio, mas há poucos meses atrás, o que me prendia ao chão era o sarcasmo, a acidez, a ironia, pesos que tive de trocar pelo ficar mudo, para não perder alguns dos queridos que tentavam evitar que me machucasse ainda mais me debatendo envolto no que para eles parecia autodestruição, mas que era apenas minha maneira de organizar, entender e aceitar tudo o que estava acontecendo e que daqui pra frente, vai me obrigar a rejeitar qualquer desejo insano de tentar viver novamente qualquer coisa que se pareça com aquilo.

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