sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Tarde dessas no programa que o Olivier apresenta, o assunto era comida afrodisíaca, simpatias, encantamentos e outros placebos no geral. Ao responder sobre o tema, um cara na rua comentou que se alguém está convencido de que uma coisa funciona, pouco importa se o princípio ativo dela é “real” ou “psicológico”. Estendendo esse conceito neo-hedonista para outras áreas fora do campo sexual, eu não sei não, mas acho que esse cara pode estar coberto de razão.

Ilustração: Richard Hogg
   

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Em As Portas da Percepção, Aldous Huxley, ao descrever as próprias experiências lisérgicas, parafraseou o poeta inglês Willian Blake enquanto narrava suas solitárias viagens ao fundo ego. Levando as portas figurativas para um canto mais careta, penso que no momento em que a percepção de alguns indivíduos com tendência para se desgarrarem de suas alcatéias vai deixando para trás a lira dos vinte dos anos, é que começa a se abrir um acesso amplo para o lado balsaquiano da existência. Em algum momento disso, alteridade e identidade se fundem temporariamente, para mostrar ao ser que caiu na chuva, que molhar é se dar conta de que no “idem” é onde mora a necessidade de se tornar parte dum coletivo padronizado por afinidades, mas é somente no “alter”, que reside o forte desejo de não ser parte de nada e nem igual a ninguém.


quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Ilustração: Zac Gash
Uma vez que não se consegue chegar a alguma conclusão sobre a existência da felicidade, há quem diga que a infelicidade, algo que ninguém duvida da existência, começa no momento exato em que a ficha cai. Isso faz algum sentido, pois saber manter a ficha continuamente suspensa é uma técnica eficiente para evitar o sofrimento quando diante de constatações realistas, afinal, quem não sabe que são as ilusões com a potência curativa dum cafuné, que refrigeram as almas em tormento? Quem nunca ouviu falar que injetar utopia diretamente na veia, alimenta a quimera que supre o aflito? Além desse efeito anestésico, a ficha quando constatemente suspensa possui outro beneficio, o de retardar a infância fazendo-a penetrar vida adulta adentro, sublimando o desconforto da solidão até que o carente/sofredor se acalme finalmente como mártir do próprio desespero.
Nessa “infância artificial” o consolo vem de se acreditar que tudo o que acontece, seja o bom ou o ruim, nunca acontece por méritos ou deméritos próprios, nem pelo acaso que incide cego e injusto sobre todos nós. Não há dor que se estenda tanto, quando se aceita isso como fruto da intervenção de alguém que usa nossas pobres vidas curtas como peças num tabuleiro cósmico de xadrez.
Enquanto a ficha não cai, a simplificação rasa dos motivos da própria solidão e do próprio sofrimento é muito mais útil na busca sem fim pela “felicidade” do que qualquer complicação filosófica sobre esse assunto.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Manhãs ensolaradas, tardes chuvosas, carrapatos, borrachudos, e lógico, pés esfolados! Toda essa "via crucis" off road sempre me fez muito bem, não por causa de uma conexão mística com alguma coisa! Embora o local propicie esse clichê esotérico tentador, sinto dizer que não é o avistamento de gnomos, de OVNIs, elfos ou fadas o que satisfaz meu cético olhar urbano, mas a paisagem pura e simples. É o enquadramento geográfico do que está estrada a frente que me faz adorar andar por horas a fio no meio da lama, pedra ou poeira, com alguns quilos embrulhados em nylon colorido pendurado nas costas. Por conta de umas questões paralelas, fui obrigado a passar uns anos sem fazer hiking e só voltar agora, primeiro pelo prazer de estar entre queridos e depois, é claro, pelo belo horizonte.

Até que deu pra curtir bastante antes do céu de Minas também começar a derreter nos obrigando a encurtar a viagem.