quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Apesar da forte inclinação gregária, percebo que a tolerância nunca foi uma característica forte no ajuntamento de pessoas, talvez por isso, a paz plena entre os povos nunca passou de uma bela quimera banhada a ouro.
A História da Civilização mostra nitidamente que a paz está entre as coisas que receberam menos esforços para que de fato acontecesse, ao contrário da tendência para se acabar com a raça uns dos outros, bastando para que isso aconteça, coisas ínfimas do modelo de vida privada que praticamos, baseado em ciumentas relações possessivas-passionais ou quando obrigados a dividir o mesmo espaço de convivência com diferenças culturais, de classe social, políticas, religiosas, étnicas e até mesmo, fenotípicas.
Nem leis, culpas, pecados e outros mecanismos de controle usados para tentar conter confrontos, proteger uns do ataque predatório de outros, costumam impedir que um tipo de incômodo devido ao grau de proximidade com aquilo que se enxerga como estranho, produza uma fricção que pode às vezes, se expressar em forma de pequenas provocações verbalizadas, piadas ou comentários depreciativos.
O curioso nisso tudo é que quando não se encontra um adversário real ou uma causa externa para começar uma guerra, procuramos incansavelmente dentro de nós mesmos, até encontrar um motivo qualquer para não viver pacificamente. Com isso, a paz torna-se cada vez mais um típico delírio humano, como são também o amor romântico e a felicidade.

domingo, 17 de outubro de 2010

Em vista do que andou circulando por aí nas últimas semanas, fico pensando quantos eleitores deste país realmente sabem de fato que o Estado brasileiro é constituído por Três Poderes, sendo que o cargo eletivo de presidente corresponde à uma vaga de chefe do Poder Executivo e que este funcionário público não governa o país sozinho?A menos que se esteja vivendo num caudilhismo, não deve ser atributo dele decidir arbitrariamente a vida de homens e mulheres livres, passando por cima de direitos individuais adquiridos constitucionalmente.
Se o que estou dizendo for razoável, então pergunto_ que história é essa de alguns exigirem do candidato “X” ou “Y”, a publicação de uma carta aberta à nação, se comprometendo com as doutrinas religiosas deles ou com um jeito único de se enxergar vida e morte?




Isso também me leva a pensar como seria uma “democracia” onde, de repente, um cidadão que se declarasse publicamente ateu, evolucionista, gay, lésbica, praticante de alguma religião oriental não cristã ou de raiz africana, corresse o risco de ser enquadrado em algum artigo envolvendo contravenção?
Digo mais_ que tipo de respeito às individualidades seria, uma em que o direito de ser dono(a) do próprio corpo não estaria mais disponível como parte de uma escolha pessoal adulta e responsável, mas à mercê de uma imposição tutelada pelo Estado, baseada num único ponto de vista religioso? Que espécie de partido, político ou eleitor, que apesar de estarmos tão distante de uma Inquisição medieval ou de uma ditadura militar, de direita ou esquerda, ainda não entendeu que a defesa de um Estado laico é que é uma demonstração viva de maturidade democrática?