sábado, 1 de maio de 2010

Bastava entrar na internet, encontrar alguma coisa de interesse comum, uma imagem, vídeo, texto, música, para pegar, colar e enviar ao destino de sempre. Isso aconteceu diariamente centenas de vezes ao longo de alguns anos, tanto que cada qual criou em seu Hotmail, pastas para guardar os pacotes do que era considerado afinidades. Com o tempo, abrimos juntos uma conta nova que usávamos como relicário para colecionar tudo o que jamais deveria se perder. Hoje de manhã, uma semana após  tudo ruir da pior forma possível, a ponto de não restar mais nenhum acesso para qualquer tipo de resstauração, achei num site uma daquelas coisas que antes eram tão urgentes como parte daquilo que jamais deveria ser perder. Encharcado ainda pelo vício, copiei, colei, depois fiquei olhando para o conteúdo na tela. Cliquei uma vogal no campo do destinatário, acionando automaticamente um nome na lista de contatos. Respirei fundo, decidi inteligentemente deletar tudo antes que cometesse o pior dos erros, mas em questão de segundos tive um forte surto de saudade-autoflagelo... 

sexta-feira, 30 de abril de 2010


Mais uma rodada de cerveja, três quarentões, quatro balzacas, uma teoria; a do crepúsculo do pênis! Não é segredo que lá pela quarta década, as mudanças que ocorrem próximo à linha do equador, preocupem um pouco, por mais que se saiba que vivemos em plena era Viagra. O grilo pode vir quando depois dum divórcio, aparece uma pessoa uns dez ou quinze anos mais jovem na cama.
Diz-se que o inferno é a comparação, ainda mais quando se está conhecendo, no sentido bíblico, um coração voraz no auge do apetite sexual e claro, bem inserida na volátil cultura das redes sociais, o que a torna inegavelmente disponível à outros numa analise mais fria do termo. Quem pensou que o centro da conversa era a passionalidade na definição clássica, que envolve entre outras coisas; insegurança, ciúme e os desatinos que se pratica com ele, errou. O assunto era a parte física mesmo, que vai desde a ação mecânica, passando pelo esforço, indo até o resultado.
Foi quando uma delas disse que, na boa, pau é bom, mas o melhor ainda era a inteligência sem afetação, bom-humor sem exageros, segurança, confiança e o abraço. A garganta dos três secou na hora e com isso, levaram as tulipas à boca quase que ao mesmo tempo. Pensavam na sinceridade daquilo, se era mesmo sério ou mera diplomacia.
A argumentação de todos fluía bem, sem atropelos, tanto que a mesma menina contou que recentemente havia visto no site duma respeitadíssima multinacional do ramo de eletrônicos, alguns acessórios voltados para casais flexíveis o bastante para permitir a introdução de componentes artificiais na transa deles. Agora imaginem só a evolução; algo que em décadas passadas era visto como um repulsivo objeto para solitários, enclausurados ou pervertidos, sendo remodelado para virar uma sofisticada linha de produtos voltados para o prazer sexual a dois e se assim for, o pênis, flácido ou duro, na hora de ir para a cama, para banheira de hidromassagem ou para cima da mesa da cozinha, não estará mais sozinho!

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Quer a gente perceba, quer não, acho que chega uma hora que começamos a ficar mesmo repetitivos. Em diversas situações, relações amorosas, no que se faz ou no que se diz, há sempre o risco de ficar orbitando em torno daquilo que cultuamos como valores, temores, certezas ou esperanças. Por mais que não se queira cair na esteira da repetição e por mais que se tente inovar a cada segundo, parece não haver jeito, uma coisa ou outra começa a se tornar recorrente demais em nós. Não que isso seja necessariamente ruim, se não for algo obsessivo. A Elisa Lucinda tem até um monologo legal falando sobre as possibilidades de tentar olhar a temida rotina sob uma nova perspectiva, que é uma ideia defendida por muitos. Lógico, é preciso aceitar também que nem todo mundo quer isso. Ao passo que alguns para minimizar o cansaço de ficarem ligados numa busca sem fim por alguma coisa nova, reduzem o tamanho do seu próprio universo e passam a se repetir sem culpa, outros sentem necessidade de viverem periodicamente em função dessa procura. Acredita-se que pessoas assim costumam se entediar com facilidade com suas conquistas e aquisições, se tornando com a mesma facilidade, angustiadas e insatisfeitas.
Difícil dizer se essa busca constante supre ou não cada indivíduo. Pode ser que seja apenas um jeito encontrado para se conseguir viver com o fato de que no fundo, nada é totalmente novo e ainda que seja, é possível que não mude muita coisa naquilo que precisamos para nos sentir supridos. Mesmo para os que conseguem virar centenários ainda ativos, sabemos que uma boa parte do conteúdo desse tempo de vida foi gasto somente com repetições, mesmo quando o rótulo sugeria aqui ou ali alguma novidade.
Barueri
14 de março de 2010
21h58

_Cara tu não fez isso!
_Fiz...
_Pra que?
_Sei lá meu! Quando vi já tinha feito!
_Mas isso não vai mudar nada!
_Eu sei, foi suicídio! Tô arrependida, mas agora tá feito, não tem mais como voltar atrás. Fudeu de vez agora!
_E ele?
_ Não quer mais falar comigo. Não quero mais pensar nisso!
_Tá com medo?!
_Tudo que ainda faltava perder, agora perdi.
_É...
_Eu sei que tô sendo egoísta, infantil. Sabia que uma hora a gente ia ter de fazer escolhas e que algumas não seriam muito boas pra mim, mas sempre achei que ia guentar quando essa hora chegasse, mas não guentei, não fui forte! Não quanto eu pensei que ia ser. Desde o começo fui babaca, fiz dessa coisa o meu tudo, dei minha cara, minha alma, até abandonei quem não devia. Imagina de repente descobrir assim que isso que pensei que fosse forte pra resistir a tudo, que fosse até à prova de balas, não era à prova de nada!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Ontem um querido que conhece um pouquinho dos nomes e números que costumam andar grudados na minha vida, chegou, ficou na dúvida e perguntou_ será Clarice um codinome beija-flor? Eu ri a beça, pois não é a primeira vez que me perguntam isso sobre uma ou outra coisa que posto aqui em forma de crônica. Então eu digo_ Relaxa amizade! Clarice é tão fictícia quanto o povo que zanza com alguma identidade por aqui. Quase todos são, desde o narrador em primeira pessoa até os com nomes citados, 100% ficção!
Se eu fosse inventar um nome pra isto, seria; “convivência poltergeist”, que é quando uma pessoa sai definitivamente da vida de uma outra que se recusa a acreditar que um desligamento real aconteceu e por esta razão, começa a conviver com o holograma daquele que já não está, passando também a ficar dias e noites acreditando que ainda almoçam e jantam juntos, agindo como se aquele que partiu tivesse apenas ido ali pertinho para logo estar de volta. Desnecessário dizer que este delírio beleza é nada menos que uma brisa meia-boca dum ópio vagaba que nem alegra, nem tira a dor, apenas alimenta a falsa expectativa de que tudo volte a ser como antes de acontecer aquilo que se nega aceitar como fim. As horas vão e fica-se assim na janela esperando que a “felicidade” que um dia criou pernas volte, passe pela porta da sala, leve as malas para o quarto e ocupe o lugar que se tem evitado tanto deixar que um outro entre e passe a morar nele.

domingo, 25 de abril de 2010

Acordei antes de Clarice. Quando isso acontece, fico quieto olhando pra ela, pensando em todo esse tempo sem dar nomes, sem haver lugar, sem algo que nos definisse. À medida que o tempo passava, fui vendo as coisas mudando na vida de Clarice! Pessoas chegando e partindo, dois casamentos, um deles com filhos, uma carreira. Um dia parei e perguntei _ Por que não com a gente? Por que não juntamos de vez tudo isso num único lugar e damos a ele um nome? Ela respondeu_ Eu não sei...
Clarice não é o meu amor e nem eu sou o dela. Vivemos há pelo menos três décadas juntos nesse nosso jeito, um que não pede pra ser explicado, pois palavras demais atrapalham. A parte disto, o que existe de fato são duas vidas separadas por escolhas muito mais oportunistas do que desejadas, criando outras histórias que não fazem parte do nosso encontro. No meu caso, já não há mais ninguém e no dela, alguém que numa situação definida, costuma dizer que a ama.
Clarice acordou e o resto já sabíamos, eu sairia para comprar pães, enquanto ela prepararia o café. Depois, a continuação duma conversa nunca encerrada. No finalzinho da tarde, um "até breve" no forte abraço demorado e como sempre, Clarice tomaria um taxi até o aeroporto. A partir de então tudo seguiria do jeito que todos nós sabemos que algumas coisas costumam seguir.