sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Toda essa carga autodestrutiva, essa autossabotagem, revelam coisas submersas logo abaixo da superfície da alma. No caso dela, uma visível baixa resistência à frustração fazia com que ela não conseguisse absorver, que por mais que se queira acertar, uma hora as coisas dão errado, se perdem da nossa vontade por vários motivos, não se concretizam na forma que a nossa expectativa ansiosa projeta. Mas ela não sacava isso, que é o erro quem melhor ensina. Então, ela segue agora em direção ao sétimo inferno, onde já vagam Dante e Virgílio. Quando cada coisa que espera-se que aconteça na perfeição deixa de acontecer, ela pira, se esconde e apanha a gilete! O pior é que ela também não sabe que quando a piração da baixa resistência às frustrações vira uma constante, o risco de entrar na Terra das Nove Luas (insanidade mental) e nunca mais conseguir sair de lá, também é uma forte possibilidade.
____
Eu quis querer o que o vento não leva, pra que o vento só levasse o que eu não quero. Eu quis amar o que o tempo não muda, pra que quem eu amo não mudasse nunca. Eu quis prever o futuro, consertar o passado, calculando os riscos bem devagar, ponderado, perfeitamente equilibrado. Até que num dia qualquer, eu vi que alguma coisa mudara, trocaram os nomes das ruas e as pessoas tinham outras caras. No céu havia nove luas e nunca mais encontrei minha casa. [ Thedy Correia - Herbert Vianna ]

domingo, 6 de dezembro de 2009


Constatação! Acredito que poucas coisas na vida depois que nos tornamos adultos sejam tão devastadoras quanto são as constatações. Elas representam aquele momento em que se ouve o barulhinho seco da ficha caindo no oco. É quando nos vemos diante do que sempre foi óbvio, mas que por alguma razão permaneceu oculto na negação daquilo que os fatos mostravam nitidamente pra todo mundo, menos pra nós. Nesse caso, a constatação não chega de mansinho, como que nos poupando, anunciando antecipadamente que vai causar uma entrada avassaladora em algum ponto das nossa percepção. A constatação é o próprio impacto, o calafrio, a porrada que ao nos dobrar na velocidade do susto, também nos acorda. Ela nos faz sentir toda a aridez da realidade e vem justamente pra evitar que a gente continue comendo areia, vivendo de algo que só existe no nosso desejo, na nossa miragem. Ao nos dar um safanão, um sacode, um rabo-de-arraia que nos bota com a cara no chão, também nos aponta os meios para tentar ficar de pé, ela nos machuca em princípio, mas acaba nos salvando de danos maiores. Geralmente, logo após a constatação vem a raiva e ela também alimenta, cria oportunidades de recomeçar, de refazer e quase sempre, de sobreviver ao que ficou constatado.
"Anger is an energy" [Rise, Johnny Lydon]