quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Quem me dera realmente entender de ópera a ponto de poder explicar na pontinha da língua a diferença entre uma ária e uma suíte. Na verdade, a coisa que mais me cativa no assunto é a apaixonante biografia de Maria Callas. Tenho essa grega de cara enorme como um fetiche bem particular, uma pin-up carismática com uma belíssima voz capaz de me excitar musicalmente. Até que numa noite dessas, vi no Manhattan Conection a soprano curitibana Diana Daniel cantando um trecho de “Il barbiere di Siviglia”. Desde então, no cantinho onde guardo minha fantasia com Callas, agora reside também uma outra bacante.


Acima: Diana _ainda em Curitiba_ numa versão pop de "Dom Giovani". Em cena, a doce Zerlina “consola” (e que consolo!) seu excitado amado Masetto que ao tentar defender a honra da sua [com]prometida das garras safadas de Dom Giovani, acaba tomando umas porradas do sedutor cafajeste, na ária “Vedrai Carino”. É o Mozart cheio de sex appeal, como sempre, só que desta vez, com blue jeans e All Star vermelho.


segunda-feira, 11 de outubro de 2010

_ Ô garota! Tô ligando tem tempo e só dá caixa postal.
_ E aê menino! Pois é... esqueci o cel aqui... cheguei agorinha...
_ Tava aonde?
_ Sai com eles pra jantar... ela voltou a morar aqui e tão de boa de novo. E os dois aê em frente... já treparam?
_ Acho que já, mas não vi nada, devem ter ido pro banheiro?
_ Quê?
_ Sumiram um tempo, voltaram e deitaram pelado na cama.
_ Hum... que horas foi isso?
_ Agora pouco. Te mandei torpedo. Tá vendo eles?
_ Hum... ainda não...
_ A tevê no quarto tá ligada no Viva, passando Vale Tudo...
_ Devem tá na cozinha...
_ Olha lá... voltaram...ela tá de roupão e ele sem nada... êheê beleza!
_ Fudeu! Peraê... foram pra cama, acho que vão trepar de novo...
_ hum... desligaram a tevê... ih fudeu!
_ Quê foi?

Foto: GröZ

_ Apagaram a luz e essa porra de binóculo aqui não dá pra ver nada com pouca luz... queria é um puta “tele” igual esse teu aê, mas e a grana?!
_ Esquece a babaquice de ir pra Disney e pede um desse pra tua mãe no lugar da viagem! Aqui... dá um jeito aê e vem aqui rapidim...
_ Tá maluco? São quase duas, a gente devia tá é dormindo... tem prova da Natália na primeira aula, esqueceu?
_ Shhhhhhh... peraê... acho que eles tão trepando...
_ Caralho! Não tô vendo nada! Só borrão...
_ Relaxa... achei que fosse, mas né transa não, tão só deitando.
_ Daqui só to vendo uma luzinha azul...
_ É o celular. Ela levantou e largou ele em cima da cama. Alguém acabou de mandar um torpedo pra ela.
_  Olha outra luzinha, mais brilhante agora...
_ Ele tá mexendo num iphone. Caraca! Tá dando até pra ler no display... tá postando coisa no Face.
_ Tem uma meio avermelhada agora... acende e apaga, ta vendo?
_ É a paradinha...
_ Hein?
_ Ela acendeu um "beck", os dois tão "dando um dois”...
_ E aê? Acha que ainda vai rolar a trepada?
_ Sei lá... tá me dando sono agora...
_ Beleza então, também vô nessa!


domingo, 10 de outubro de 2010

Nem sempre é possível não emputecer diante de momentos emputecedores, mas durante o processo, pode ser uma boa tentar poupar aqueles que nada tem a ver com o emputecimento. Os que orbitam decadentes corpos em delito e mentes cheias de conflitos, autossabotagens, bipolaridades e conclusões, algumas delas precipitadas, às vazes bebem sem querer um golinho do copo de cólera do transtornado. Isto acaba sendo não muito justo, pois não são eles as causas das frustrações pontiagudas que atormentam os que se emputecem.

Infelizmente, desemputecer totalmente e evitar descontar em outros uma dívida que não é deles, não é pra todos. Fazer dessa habilidade um hábito é tarefa das mais difíceis para os de baixa resistência à frustrações e perfeccionistas em geral, mas o mais curioso sobre o gatilho do emputecimento é que ele costuma ser disparado sempre na hora errada, criando situações desgastantes com as pessoas alvejadas. Quando estas não são bastante pacientes, compreensivas ou amigonas do peito, quase sempre, o resultado gera um pequeno afastamento defensivo, que pode se tornar grande e permanente dependendo da constância com que se faz uso da metralhadora cheia de mágoas.