domingo, 6 de dezembro de 2009


Constatação! Acredito que poucas coisas na vida depois que nos tornamos adultos sejam tão devastadoras quanto são as constatações. Elas representam aquele momento em que se ouve o barulhinho seco da ficha caindo no oco. É quando nos vemos diante do que sempre foi óbvio, mas que por alguma razão permaneceu oculto na negação daquilo que os fatos mostravam nitidamente pra todo mundo, menos pra nós. Nesse caso, a constatação não chega de mansinho, como que nos poupando, anunciando antecipadamente que vai causar uma entrada avassaladora em algum ponto das nossa percepção. A constatação é o próprio impacto, o calafrio, a porrada que ao nos dobrar na velocidade do susto, também nos acorda. Ela nos faz sentir toda a aridez da realidade e vem justamente pra evitar que a gente continue comendo areia, vivendo de algo que só existe no nosso desejo, na nossa miragem. Ao nos dar um safanão, um sacode, um rabo-de-arraia que nos bota com a cara no chão, também nos aponta os meios para tentar ficar de pé, ela nos machuca em princípio, mas acaba nos salvando de danos maiores. Geralmente, logo após a constatação vem a raiva e ela também alimenta, cria oportunidades de recomeçar, de refazer e quase sempre, de sobreviver ao que ficou constatado.
"Anger is an energy" [Rise, Johnny Lydon]

Um comentário:

Camilla Dias Domingues disse...

hoje eu tive uma constatação na formatura da minha filha ao olhar para a cara do meu ex-marido depois de meses e ver que é fato... é dúbio, senti raiva e algo que não sei dizer o nome, mas não é mais amor, manja?
estou tentando digerir essa sensação até agora.