quinta-feira, 3 de setembro de 2009


Dizem que cada cultura pinta o inferno com as cores que têm. Acredito que na nossa, o inferno seja uma coisa individual, mas pode ser que tenha um começo igual pra todo mundo quando enfiam bem cedinho na nossa cabeça que é preciso fazer de tudo para conseguir a aprovação de alguém, cuja opinião a nosso respeito parece importar tanto pra gente. Isso é um inferno porque pode chegar ao ponto de nos fazer ficar aflitos. Isso vai desde o Papai Noel que é aquele que só te dá presente se você for bonzinho, até o Papai do Céu, que tua mãe diz que sofre e fica triste quando você não se comporta direitinho. E assim caminha a humanidade, com essa obrigação nas costas! A pesada obrigação de querer sempre “ser” ou “parecer” alguma que todo mundo diz ser de extremo valor na tua vida. É um inferno porque você precisa mostrar pra eles o quanto é bonito, educado, pós-doutorado, o quanto tem grana, que é neto de brancos, sexy, inteligente, saudável, bacana! É um inferno porque é nesse caldeirão de enxofre que o chicote da comparação te açoita até a vida virar um desespero interno tão medonho que para alguns a melhor saída seria mesmo ter os pulsos cortados. Tudo bem que as comparações fazem parte duma forte regra biológica na vida de seres gregários como nós, mas tem dias, tem uma hora, que a gente não aguenta! Chega um momento que a gente quer mais é cuspir o diet na pia, parar de fazer spining, queimar a receita do rivo, jogar a chapinha no lixo, rasgar os ingressos pra ópera, esquecer todas as senhas, confessar as taras no youtube, chegar entre os últimos, soltar a barriga, peidar na piscina, adorar ser o mais feio, achar o Caetano um chato, permitir-se ser imprudente, comer ovo cor-de-rosa num boteco da Lapa, lamber a sobra na beirada do prato! Tem horas que dá vontade abrir a janela e gritar bem alto pro azul... um imenso _ Foda-se! Pra tudo aquilo que você, apesar do esforço intenso, não conseguiu ainda e no fundo nem sabe se tá mesmo a fim de conseguir.