quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Antes de adormecer profundamente, percebi quando ele se ajoelhou e chegou o rosto bem perto do meu travesseiro. Assim que percebeu que eu não ia mais voltar a dormir, se afastou e acendeu a luz. Depois puxou uma cadeira, sentou ao lado da cama e começou a reclamar de algumas coisas que ele mesmo havia falado no conto Nº 16. Refeito do susto, levantei, vesti uma bermuda e me sentei na cama. Ele me olhava como se estivesse esperando uma justificativa. Calmamente, eu disse que não sou responsável pelo que meus personagens falam e nem me dou ao trabalho de julgá-los por aquilo que aprovam ou desaprovam. Sequer os conheço, não sei do passado deles, nem do presente. Sendo assim, tão pouco me interessa qual será o futuro deles! Tem sido assim já há alguns anos, sempre que interrompo uma história pelo meio, percebo que alguns deles ficam me espreitando, mas nenhum até hoje, apareceu para reclamar. Percebo que alguns, por alguma razão, me amam, como igualmente percebo os que me odeiam sem que eu saiba também o porquê, mas estou certo de que a maioria deles não sente nada por mim e confesso_não sinto por eles coisa alguma. O distanciamento é tanto que de alguns, nem sequer o nome eu sei. Falo que são “meus” apenas por uma questão de semântica, pois na verdade, não os possuo. Eles não existem porque eu existo, não são parte de mim, nem são o que parecem para me agradar. Não são meus filhos, nem meus amigos, nem tem comigo algum parentesco. Não são movidos pelo que sinto, penso ou acredito. Eu não os controlo, apenas os ouço e registro em texto tudo aquilo que eles mesmos querem que os outros saibam.

Barra Mansa, RJ
18 de agosto de 2009
23h45

_ Vem cá! Que houve? Cê ficou puto com o que agora?
_ Eu não tô puto, só cansado desse papo! Eu preciso ir pra casa agora.
_ Tá bom, eu paro! Fica aqui...
_ Sempre que eu penso que a gente tá bem, que tá dando certo, vem você inventando um problema.
_ Desculpa vai... já disse que parei.
_ É que eu acho besteira ficar nessa! Por que a gente não pode fazer como todo mundo, relaxar e deixar rolar? Namorar sem essa de ficar “por que isso”, “por que aquilo”. Por que tem que ficar procurando nome pra tudo, definição pra tudo, pô? A gente tá junto, ta legal, você parece que gosta, sinto sua falta, te ligo todo dia, e mesmo não concordando, topei sem reclamar a tua condição de morar em casa separada. Tá faltando o que agora?
_ É essa história de falar “eu te amo”.
_ Cacete! Já vai começar? Qualé? Que tá pegando?
_ O lance é comigo, nada com você. Fico achando que ficou meio comum demais sair falando “eu te amo” pra toda pessoa legal que a gente encontra na internet e pela net quase todo mundo é maravilhoso. Sem querer a gente vê um gatinho no Facebook duma amiga, acha ele interessante, adiciona e depois começa de papo pelo MSN e logo passa pro Skype, quando vê, já tá achando que ama o cara!
_ Já vem você outra vez!
_ Calma, me escuta! É importante! Essa facilidade que a net dá de sair falando “eu te amo” só porque um cara parece legal, porque é gostoso passar umas horas teclando com ele, tem me feito pensar numa porrada de coisas. Todo mundo anda assim agora, toda semana adiciona um alguém que na hora parece legal e depois bloqueia quando descobre que não era tão legal. Toda hora aparece um cara manero, você adiciona, fica ansiosa pra chegar a hora dele ficar on line e assim vai!
_ Devo pensar o que te ouvindo agora? Que tua escolha por mim tá ficando afetada por causa de uns caras na sua lista de contatos?
_ Não tá! Mas fico me perguntando, será que a gente não ta junto por falta de opção? Quem garante que você não vai encontrar hoje ainda no seu Orkut uma garota que você acha que tem mais a ver contigo do que eu? E se eu encontrar um outro cara no MSN e começar a achar que tô gostando menos de você?
01h20

_ Às vezes conversando com as meninas, a gente fica falando sobre os caras que teclamos pelo no MSN, elas sempre falam de alguém assim ou assado. Caras que elas conversam com certa regularidade na internet...
_E vc também faz isso...
_ Você quer que eu minta? Então fico vendo a Karina e o Dé, indo pro segundo ano de casamento, tão apaixonados, exalando cumplicidade como a gente vê quando saímos juntos com eles, lembra? A Karina tecla com um indiano que mora em Boston e fala dele com uma coisa que sei lá! Vejo a Teresa Poll, que se declara louca pelo Gustavo que é capaz de matar por causa dela. Ela também flerta no MSN quando tá no trabalho ou em casa, por celular. Dizem que fazem isso por diversão! Só a Lucila que eu acho que tá indo as vias de fato com um cara, mas ainda assim, fala que não vive sem o Murilo.
_ O lance pro cê também é diversão?
_ Claro que é, mas ultimamente tem me feito pensar se quando a gente diz “eu te amo” pra alguém, isso não acaba virando com o tempo, um tipo de saudação, um cumprimento, uma coisa dita só pra prender a pessoa que tá contigo enquanto se experimenta tantos outros. Se não gostar fica-se com o que já tá, mas se gostar do outro, simplesmente se troca! Falar
“eu te amo” antes de deitar pra um e na manhã seguinte, fala a mesma coisa pro outro na internet.
_ Cê anda falando muito “eu te amo” pra alguém na net?
_ É esquisito, mas não tive vontade ainda, acho que se falasse não seria no mesmo peso que tem quando eu falo pra você! Mas tenho ouvido muito e quando ouço penso no quanto isso parece bobo sendo dito assim por tão pouco, por alguém que nem teve como presenciar no dia-a-dia os meus piores defeitos! O engraçado é que também acho que viver fora do virtual, na real, com alguém todo dia, estar transando e gostando dessa intimidade, pensar nela varias vezes durante o dia, também não garante nada. Estar numa relação considerada por ambos como perfeitinha não impede ninguém de querer experimentar uma outra!
_ Não?


01h58

_ Pois é! De uns tempos pra cá tenho achado que não é tão simples assim! Acho que pra ser alguma coisa de verdade, é preciso que cada um perca alguma coisa que gosta muito. Acho que essa coisa que se precisa voluntariamente jogar fora é a facilidade que temos de ultrapassar a barreira da nossa própria fantasia, e fingir esquecer que estamos sob um compromisso de amor, e ficar ou transar escondido com um outro, por tesão ou a curiosidade, mesmo com uma certa culpa depois. Tenho achado que pra gente falar de boca cheia que ama alguém de verdade, é preciso jogar fora essa “liberdade”. Jogar fora sem deixar o companheiro saber que jogou. Fazer isso não por causa dele, mas por você próprio! Não to falando de dar a alguém prova de fidelidade, isso é babaquice, não acredito nisso, as pessoas simplesmente mentem quando querem muito uma coisa que não deveriam querer, subvertem esses acordos de boca, de cartório ou de igreja. Então se decidir jogar essas “oportunidades” fora, é legal que o outro nunca saiba, senão estraga tudo. Vejo isso, uma decisão absurda e solitária um desafio sem muito sentido contra si próprio, só para mostrar a você mesmo que é capaz de fazer algo que está além dum acordo comum de fidelidade.
_ Cê é foda criatura! Cruz credo, completamente pirada!
_ Não precisa me dar a sua opinião sobre isso. Não quero!
_ Não me contou tudo isso pra depois me perguntar com quem eu flerto no MSN ou no Skype? Pra me testar e jogar um verde pra me fazer confessar se transo escondido com outras só pra experimentar, pra variar, fugir da rotina ou só porque eu sou homem? Por farra?
_ Não.
_ E por que não?
_ Porque não quero que você se sinta forçado por esse papo a ter obrigação de me falar a verdade ou simplesmente mentir, só pra não me machucar.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009


Foi assim ontem naquele pedacinho da noite, um pouco antes da divertida inquietação coletiva dos meus vizinhos. A chuva já havia dado uma trégua, mas o calor não. Era noite bem preta e quase tudo tava fluindo até que bem. Eu já tinha enviado alguns emails em reposta e fui pro banho frio. O miojo já tava fumegando no prato sobre duas fatias de mussarela e num copo cheio de cubinhos de gelo, o restinho de H2Oh que sobrou da hora do almoço. A tevê no quarto, tava ligada na Record e de repente paw!!!! A treva! Jantei sob luz de celular (lanterna sem pilhas e nunca tenho velas em casa) Depois, sem skype e sem absolutamente nada pra fazer na escuridão, não tive outro jeito a não ser chegar a cama mais pertinho da janela totalmente aberta, tirar a roupa toda (calor demais), deitar com os pés apoiados na cabeceira e me plugar ao trequinho de escutar música.
As primeiras 20 foram estas:

Capitu – Ná Ozzetti
Choveu – Beto Guedes
Duvida Cruel – Chico Cesar
Fitter, Happier – Radiohead
Frozen – Madonna
Tropicália (2) – Caetano e Gil
Inverno – Adriana Calcanhoto
Guitarra - Madredeus
New Soul – Yael Naim
Acabou Chorare - Novos Baianos
O céu – Marisa Monte
Olho de Peixe – Lenine
Pêndulo – Egberto Gismonti
Suburbia - Pet Shop Boys
Pigs on The Wind – Pink Floyd
Reprocissão - Chico Cesar
Ultimo Por-do-Sol – Lenine
Vanish Point (trilha do filme) J.B. Pickers
Voo de Coração – Ritchie
Zazulejo – O Teatro Mágico

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Se ela tivesse continuado a acreditar sem se curvar ao medo do futuro, talvez não tivesse se importado tanto com a opinião dos que não fazem parte da história. Se não tivesse desistido tão rápido de segurar com as duas mãos o que havia, se tivesse tido a coragem de Joana D´arc, acho que aquilo bem que poderia teria sido nosso épico, a canção de derrubar os muros da cidadela, uma vitória sem glória do pacto tântrico secreto que fizemos, da história que escrevíamos todas as tardes e talvez, quando perto do fim das muitas promessas, quando as ilusões fossem reveladas insuportavelmente claras, quando a realidade dos fatos começasse a ferir e por fim, se tivesse escolhido cumprir a parte dela no trato, é quase certo que tivéssemos como prêmio, nos permitido morrer ao mesmo tempo, sem medo algum e sentindo o tipo de paz que só acontece quando se tem certeza de que tudo o que houve, de alguma forma, valeu a pena.

[Cruzada] Não sei andar sozinho por essas ruas, sei do perigo que nos rodeia pelos caminhos. Não há sinal de sol, mas tudo me acalma no seu olhar. Não quero ter mais sangue morto nas veias, quero o abrigo do teu abraço que me incendeia. Não há sinal de cais, mas tudo me acalma no seu olhar. Você parece comigo, nenhum senhor te companha, você também se dá um beijo dá abrigo. Flor nas janelas da casa, olho no seu inimigo, você também se dá um beijo dá abrigo! Se dá um riso dá um tiro. [Tavinho Moura - Márcio Borges]

domingo, 8 de novembro de 2009

Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais, Não quero, não posso e não devo mais acreditar. Simplesmente não acredito mais. Não quero, não posso e não devo mais acreditar.

... versos proscritos não passam de subversos... (Ave! Glauco Matoso).

UNDERCODE

Ao decodificar um velho manuscrito
O monge que duvida apenas cumpre um rito
Aos crédulos, diz: crede, pois eu creio!
Mas em silêncio fala consigo; é tudo mito.


SANTA TERESA

Meu êxtase é fogo sagrado
Me consome em dor e sabor
Me arde acre e adocicado

TOTEM E TABU

Se um Deus fez tudo que pode ser tocado
Então por que o pau não é sagrado?
Por que é profano falar siririca,
Pica, punheta, porra, boceta?
Por que os ícones da morte
São pendurados no pescoço
E os da vida... trancados na gaveta?
Percebi sim como achou engraçado quando eu falei que amo sua boceta! Você riu daquele jeito, tentando me mostrar o quanto é descolada, mas não adiantou, ficou ali mordendo um dos lábios, fingindo não estar envergonhada. Pois saiba menina que amo sua boceta não apenas com a parte áspera da minha libido. Saiba que isso também não é um galanteio a fim de ter acesso às tuas pernas abertas no meu já conhecido descarrego fálico matinal. É provável que eu consiga desejar todas as bocetas que couberem na minha fome, já que nossa intimidade me permite dizer que não há na sua boceta, nada que não seja igual a tantas outras bocetas desejáveis entre tantas mulheres no mundo. Sendo assim o que torna sua boceta tão especial é fato de ser a sua boceta e não uma outra ou qualquer uma. Se eu fosse crente o bastante para ser um cristão zeloso, quem sabe, um brâmane ciente duma injusta roda cármica e devido a esse elevado grau de desprendimento, pudesse depois da morte, escolher um corpo para tornar a viver, certamente, excluiria o de alguém adorado como um sábio santo, um mago. No plano dos desejos carnais, rejeitaria também voltar entre os homens mais belos, capazes de enlouquecer sereias. Recusaria retornar como herói, milionário ou imperador, mas aceitaria voltar para me tornar você. Não estar no seu corpo, mas renascer você, ver surgir entre as minhas pernas um lótus vivo e rosado. Sua boceta, minha ninféia.

Fico às vezes muito puto ao sentir que ainda há aqui dentro um leve resíduo da credulidade que somente agora considero apropriadamente uma doença. Por três décadas e meia, aproximadamente cuidei dela como um gentil, passivo e fiel jardineiro. Um Dom Quixote viajando num zepelim movido a todo tipo de engodo. Talvez tenha vivido isso, por possuir um solo fértil para o cultivo de fantasias, mesmo quando todo mundo sabe que delas só se colhem quimeras. Era como uma vocação e por perceber isso somente agora, é que me enfureço tanto quando começo a me lembrar do longo tempo que joguei fora tendo sido tão devoto. Já cheguei a pensar que a insônia que inunda a minha cama desde a infância, tenha propiciado certa facilidade para sonhar acordado e nesse sentido, fui perigosamente onírico pelo menos por três vezes nos últimos dez anos. A mais recente deixou esse grande corte que não fecha, sem falar na dor que está fora do alcance dos analgésicos, e que tem me forçado a encarar o solo como o lugar seguro que preciso me acostumar a viver daqui pra frente, até que pelo menos, tudo tenha cicatrizado. No momento, o que tem me servido de lastro, é o silêncio, mas há poucos meses atrás, o que me prendia ao chão era o sarcasmo, a acidez, a ironia, pesos que tive de trocar pelo ficar mudo, para não perder alguns dos queridos que tentavam evitar que me machucasse ainda mais me debatendo envolto no que para eles parecia autodestruição, mas que era apenas minha maneira de organizar, entender e aceitar tudo o que estava acontecendo e que daqui pra frente, vai me obrigar a rejeitar qualquer desejo insano de tentar viver novamente qualquer coisa que se pareça com aquilo.