quarta-feira, 15 de setembro de 2010

 
Associated Press

A primeira vez que se encontraram foi em 97, quando ele fez um elogio satiríaco à bunda de uma das amigas dela e aparentemente por causa disso, a coisa acabou virando na noite seguinte, um ruidoso protesto na porta do boteco onde ele e os companheiros do curso de medicina costumavam tomar uns pileques.
A indignação dela evoluiu para um estágio mais ideológico, com quebra de CDs do É o Tchan e queima ritual de pôsteres da Carla Peres, além de juntar uma multidão em frente ao decrépito "pé-sujo" para vê-la subir numa mesa na calçada e fazer um discurso furioso contra o que chamou de “adoração imbecilizante de bundas balançantes”. Para fundamentar o ato de repúdio, citou de Olga Benário a Rita Lee, deixando claro com isso, que junto com as amigas, inclusive a tal que teve o traseiro ovacionado, pertenciam a uma elevada casta de jovens mulheres que se recusavam serem vistas como um "pedaço de carne". No fundo, ele suspeitava que a verdadeira razão daquilo nada tinha a ver com um suposto fervor neofeminista, mas sim com o fato dele não tê-la incluído na já citada "ode aos glúteos". Contudo, a certeza só veio mesmo treze anos mais tarde, quando se encontraram pela segunda vez, coincidentemente na clínica onde ele era um dos sócios. Ele a reconheceu prontamente, ao passo que ela, sequer suspeitou que aquele meio careca um pouco acima do peso, pudesse ser ele. Pelo formulário de serviço, ele ficou sabendo um pouco mais sobre ela. Advogada, 40, casada. Soube também que além de profundamente insatisfeita com a própria bunda, estava muitíssimo disposta a investir dezoito mil à vista numa cirurgia para implantar 400ml de silicone em cada lado.