quarta-feira, 30 de setembro de 2009




RETÓRICA ROMÂNTICA S.A.

Já fui um lobisomem juvenil. Significa que uma parte do que fui da juventude a até pouco tempo atrás, foi construída numa época em que estar ligado as causas (ideias) era considerado muito mais importante que estar ligado as coisas (gadgets). Isso porque um pouco antes da queda do muro, as pessoas dentro do meu circulo social viviam num Brasil romântico onde a ditadura militar já dava os seus últimos suspiros e por isso mesmo, achávamos que tínhamos vencido. Nessa época as ideias ainda chegavam a gente através dos livros de intelectuais europeus (em sua maioria), filósofos contemporâneos como Sartre e Focault, pelo contato com amigos engajados na UNE, estudando em universidades públicas e claro, pelas canções de protesto do Chico ou pela verborragia de Caetano, Gil e companhia. Tudo o que a censura não conseguia pegar, a gente “traduzia” e usava como um evangelho. Era tudo muito classe-média, muito suburbano, ingênuo e lírico como eram os Marighela e os Baader-Meinhof da vida. Anos mais tarde, depois que tudo aquilo acabou, eu tava vendo um programa do Abu e de repente ele soltou_ “Romântico tem mais é que se fuder”. Imaginem o Abujamra com aquele olhar feroz de Tiranossauro Rex vociferando isso para câmera?
Quando comentei a frase recentemente numa roda de amigos, acrescentando que ele tinha razão, quase fui linchado, não por ter pronunciado alguma heresia, mas porque esqueci que para alguns na mesa, romântico significava apenas ser alguém de “coração adocicado” vivendo uma aquecida paixão sazonal. Eu, no entanto, estava falando da outra definição do termo, falava do perfil ingênuo e em muitos casos, quase cego, de crédulos que morreram e ainda morrem em vão tentando dobrar no discurso, na bomba ou no fuzil, um sistema de coisas que não tá nem ai para a ideologia que alguém professa crer. Falava dos paladinos de hoje em dia, que seguindo o modelo de antigos mártires revolucionários, ainda gastam (de graça) suas vidas, sem buscar obter lucro, dedicando-se a lutar ideologicamente pelos párias de todos os guetos. Ainda hoje podemos ver alguns, distribuídos em “nanopartidos” fragmentados do “partidão”, que com as bocas cheias dum discurso marxista mofado, ainda tentam fazer prosélitos. Acreditam piamente sob o manto anacrônico de uma inocência pueril, que verdades, bondades, justiças e corações cheios de boas intenções são o que de fato fazem mudar o rumo social das coisas num mundo que nunca esteve tão corporativo. Não enxergam que são interesses, vantagens pessoais políticas ou econômicas, que giram as engrenagens de grandes mudanças sociais. Ah! O G-20 tem agora a voz da vez. Tem mesmo? Ah! O proletariado subiu ao poder na America Latina. Subiu mesmo? Basta uma lida superficial em “Animal Farm” do Orwell pra entender que certos fatores combinados, costumam empurrar qualquer revolução “bem intencionada” para aos pouquinhos, ir se prostituindo diante dos interesses de uma pequena confraria, bastando para isso, o uso hábil de algum carisma e meia dúzia de falácias populistas.
O fato é que cada desencanto trás no seu gosto a sensação de que “romântico tem mesmo é que se fuder”. Grito isso para mim toda vez que ainda uivo lembrando o quanto militei romanticamente em tudo que foi causa de esperar Godot. O mundo mudou e sempre vai mudar para que continue sob a guarda das mesmas castas. Parece que não importando a época, os ajuntamentos humanos nascidos das desigualdades sempre terão a forma de uma pirâmide que toca os céus. No topo; os mesmos, tomando “uma fresca” e bem mais abaixo, tomando na bunda, os românticos.

5 comentários:

Camilla Dias Domingues disse...

pirei!
sou a que entra sempre com a bunda!
rsrs!

GIL ROSZA disse...

rsrsrs... o romantismo crônico é uma espécie de vaselina. a gente sofre, mas gosta =) fazer o que?

Thaissa Costa disse...

Lembrei de uma música do Vander Lee: "Romantico é uma espécie em extinção." Cada dia que passa as pessoas, consequentemente a sociedade, fica mais individualista e o romantismo extingue-se de forma abrasiva. Quando percebemos ele foi-se. É triste...

Camilla Dias Domingues disse...

Ah! o mito do amor romântico!

GIL ROSZA disse...

tenho um texto que postei num blog q tinha há seculos atras sobre o mito do amor romantico. se achar posto aqui. opsss... é melhor nao. rsrsrs