sexta-feira, 18 de março de 2011

O marco divisório. O momento exato do disparo que administra uma mudança que nunca cessa. A distância percorrida até um improvável lugar onde a linha bifurca detonndo a sequência de eventos que dará prosseguimento a transformação.
É ilusório achar que há um jeito de controlar ou deter o curso disso em proveito próprio. A vida é uma entidade amorfa, autônoma, mutante e muito mais resistente do que a gente imagina. Ela adora contrariar teóricos, mostrar que não depende da vontade humana e de uma moral criacionista para ser salva. Na maioria das vezes, na tentativa de querer alinhar uma ponta como solução, não se nota o desalinho que provoca em outra ponta que se encontra fora do campo de visão.



Para perceber o quanto a existência gira numa espiral sem começo, meio ou fim, é necessário se afastar um pouco da visão cartesiana que usamos como orientação e aceitar que os elementos que dão formas distintas a tudo que surge no periférico da vida, se fossem misturados ou invertidos aleatoriamente, ainda assim poderiam ser usados para contar uma nova versão da mesma história.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Definitivamente, alguns gatos marcaram minha infância. A maioria faz parte do Hannah-Barbera Studios e da Warner muito mais que os da MGM. A Disney, por tradição, costuma dar mais espaço para ratos, patos ou cães. Ainda tem  os da laia do Felix, Garfield, Fritz e o Haroldo, aquele “Grilo Falante” do Calvin que nem gato é, mas é como se fosse!
Ainda sobre os estúdios Hannah-Barbera, uma das coisas que me cativa no trabalho deles é o jeitinho de juntar roteiros geniais com música da boa, inclusive, criando bandas de acetato que ficaram famosas fora do vídeo. Josie e suas amigas gatinhas são um exemplo desta proeza envolvendo felinos.



No entanto, meu xodó sempre foi o Manda Chuva, o vira-lata alaranjado que tira onda de dandi bon vivant. Morando na rua e liderando uma gang hilária de fiéis escudeiros, o espertalhão arma altos golpes em cima do ingênuo Guarda Belo. Outra coisa bacana no desenho, é que na abertura, logo de cara rola um bebop jazz bem suingado, que na época me fazia ronronar de felicidade. Bons tempos... gatos queridos!

segunda-feira, 14 de março de 2011

“Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta”
                                                                            
Carl Jung.

A matéria-prima da fantasia sempre intrigou Carl Jung que se dedicou uma vez a estudá-la. Ele acreditava que num passado longínquo, bem antes de haver sociedade organizada e cultura, a mente humana teria desenvolvido um tipo de habilidade para processar pensamentos básicos de um jeito mais avançado. Não era conseguir resolver criativamente problemas complexos, envolvendo uma adaptação de recursos disponíveis no ambiente para transformá-los em instrumentos. Geralmente isso é definido por inteligência e está longe de ser um privilégio humano, pois é compartilhada por outras criaturas. Jung falava de algo novo, algo especialmente humano, uma surpreendente organização e administração mental de situações não conhecidas ou vividas, buscando relacioná-las com algum evento passado, presente ou futuro a fim de dar sentido às coisas observáveis. Essa capacidade de fantasiar com um grau de sofisticação jamais vista e inventar um simulacro da realidade, ainda que absurda ou não vivenciada, causou uma revolução na percepção do que os humanos viam em sua volta.
Quando os primeiros xamãs passaram a fazer registros orais das experiências diárias de seu povo, realidade e fantasia se misturaram fazendo surgir o Pensamento Mágico. Numa época em que tudo na natureza era obscuro, o termo "magia", iluminava respostas como única explicação possível para manifestações tomadas por sobrenaturais, ações divinas ou demoníacas. Na lógica do Pensamento Mágico, os sonhos, por exemplo, eram vistos como um estranho “mundo invisível” ligado ao mundo real através de um estado de inatividade temporária conhecida bem mais tarde por sono.
Para a jovem mente homo sapiens, adormecer era o único modo de entrar nesse “universo paralelo”, se comunicar com pessoas, coisas, animais, elementos e receber deles informações codificadas. Para sair, bastava acordar. Aqueles que por razão de doença, ferimentos graves ou idade avançada, não despertavam, a lógica infantil do Pensamento Mágico explicava que haviam ficado presos para sempre naquele mundo cheio de mistério.



 O Pensamento Mágico e o "Pensamento contemporâneo" travam um duelo difícil na mente do personagem Nullah, um menino aborígene em Austrália (2008).


PARA DESCER MAIS FUNDO, 6 LASTROS:

O homem e seus símbolos, Carl Gustav Jung, Nova Fronteira, 1977.
Presente e futuro, Carl Gustav Jung, Vozes, 1991.
A negação da morte, Ernest Becker, Nova Fronteira, 1976.
Ano 1000, ano 2000: Na pista de nossos medos, Georges Duby, Editora Unesp, 1998.
O medo à liberdade, Erich Fromm, Zahar Editores, 1978.
Quatro gigantes da alma, Mira y Lopez, José Olímpio Editora, 1988.

domingo, 13 de março de 2011


























Não participei ainda de uma World Naked Bike Ride, mas ando pensando em como me sentiria ao me tornar mais um entre tantos nesse "Woodstock dos pedais" que ocorre anualmente no mundo inteiro. A meu ver, a presença da nudez ali funciona também como um protesto paralelo contra a ditadura insana do corpo sarado. Acho socialmente saudável quando um grupo se sente à vontade em exibir sem medo o que o atual padrão de consumo considera esteticamente reprovável.
Como nos projetos do genial Spencer Tunick, em que a nudez imperfeita de gente comum não está ali para produzir previsíveis estímulos eróticos de culto ao perfeito, a pedalada dos pelados, ainda que nem todos na versão paulistana, circulem de fato completamente nus, pode representar a liberdade de estar por um breve instante, despidos das camadas de convenções que nos obrigamos diariamente a vestir.