sábado, 24 de julho de 2010


Agora a pouco parei num sinal e senti uma vontade forte de orar.
E orei... cantei alto Gilberto Gil pela boca da Gal e fui ficando em paz!
Às vezes é preciso parar de cultuar a autopiedade! Às vezes é necessário deixar que a dor e o sofrimento produzam uma forte reação em cadeia a seu favor, uma onda de indignação tamanha, uma ira santa, um desejo fervente de “chutar o pau” e retomar direito ou errado o rumo da vida sem ficar lamentando a própria sorte. Às vezes é preciso parar de ficar querendo receber apenas vantagens do que decide ou ficar fazendo escolhas baseadas no medo de contrariar os outros! Às vezes é preciso ranger os dentes e gritar bem alto _Foda-se_ a tudo e todos que se postam na sua frente. Às vezes, a única saída é fazer um leão pensar duas vezes diante de uma vaca disposta a tudo.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Mesmo com o calvário de procurar vaga pra estacionar já quase no fim da tarde, adoro o Arpoador. Antes, de irmos para lá, precisei cumprir uma promessa antiga, levá-la em Copa, para conhecer o bistrô da Modern Sound e antes de deixá-la casa, me veio a ideia de ver o pôr-do-sol no Arpoador. As coisas fluiram no ritmo da tarde, o vento frio, pessoas fazendo tai-chi, tudo isso emoldurado a um abraço-amigo de anos a fio. Lembrei que havia dado a ela um poema datado. Rimos muito quando eu disse que me sentia aliviado de nunca termos sido, namorados, noivos, casados e nem amantes, coisas que são conhecidos agentes portadores do vírus de matar o “amor-quintana”. Fora o fato de nunca ter precisado mentir ou fingir certas coisas, evitando assim que ela viesse saber de alguns segredos cômodos. A isso, ela disse _É verdade_ me beijou a boca e completou_ Pra vir falei pro Reinaldo que tinha algumas coisas para resolver no IBGE. Olhei para ela e disse_ Feliz Dia do Amigo, amiga! Que isso viva sempre assim, despretensiosamente belo como está o céu do Rio hoje!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Em princípio, pensei que fosse um soluço, mas depois atinei, juntei as sílabas e o nome veio claro novamente aos meus ouvidos _ Elisabete. Amiga nossa de muitos anos, de festas de aniversário dos filhos, de viagens de férias em dois casais no mesmo carro. Também em sussurros passei a alimentar tudo aquilo sem demonstrar surpresa ou desagrado. Com isso ele confirmou ser ela, o objeto do desejo. Perguntei se já haviam... mas ele jurou que nunca, havia apenas o tesão contido, a vontade. Tomei aquilo como verdade, e era. Ainda abraçada a ele, minha boceta era comporta aberta, enquanto ele me comia como no começo dos anos, mas agora, sentindo-se livre depois da confissão e da minha atitude em não repreendê-lo, não somente pensava nela, como gemia alto; Elisabete! Eu não o reprimia, ele revirava os olhos e noite passou e teve o seu fim num sono quieto.
No dia seguinte, na mesa posta para o café, a paz, nenhuma palavra, nenhuma pergunta ou cobrança. Duas noites depois, eu, achando que também podia, sussurrei no ouvido dele, um nome_ Pedro, o dentista. Nunca vi um homem tão ensandecido. Ele pulou da cama com a boca espumando, acendeu a luz e gritou me acusando de tudo. Pegou a chave do carro e saiu àquela hora da madrugada. Até agora não voltou.

terça-feira, 20 de julho de 2010





Quando eu tiver meio ácido, debochado, pouco reverente na presença de divindades, quando parecer estranhamente abusado, cínico, poeticamente esquisito, perigosamente desligado ou contraditoriamente displicente com as minhas próprias afirmações, por favor, me perdoem, é que não tenho a mínima ideia do que possa estar acontecendo, então, me desculpem! Poderia até inventar uma justificativa, plagiar uma quote do Yoda, dizer que a passagem pela meia-idade me colocou numa zona neutra, onde o desfrutar da serenidade é imensamente melhor, do que a viver correndo atrás do próprio rabo, numa inútil busca pela felicidade e blá, blá, blá, mas isso também seria mentira! A verdade é que não sei mesmo o que está se passando comigo, eu nunca soube, certamente jamais saberei, a diferença é que desta vez, estou pouco ligando para o fato de não saber e deve ser disto que está vindo a tona todo esse tom irônico.

I'm Nobody! Who are you?
Are you - Nobody - Too?
Then there's a pair of us?
Don't tell! they'd advertise - you know!
How dreary - to be - Somebody!
How public - like a Frog -
To tell one's name - the livelong June -
To an admiring Bog!

Emily Dickinson

domingo, 18 de julho de 2010

AUTOFAGIA (1984)
Hoje à noite vou à festa de Babete refestelar-me numa mesa farta de vinho e vísceras! Na festa de Babete beberei todo meu passado e comerei todo meu futuro. Me autoconsumirei tão completamente, que nem a mínima sobra, servirá para contar alguma história.
Faz muito tempo que abandonei a ideia de que tudo aquilo que é bom para mim é também bom para todos. Tempos atrás, por acreditar em tal coisa, procurava ansiosamente fazer prosélitos usando isso como nobre justificativa. Atualmente, entendo que é um conceito infantil, antigo, extraído de quando o Pensamento Mágico ainda era usado para fornecer respostas, mas de certo modo, necessário ainda hoje, para a formação e manutenção das convenções que como grupo, todo mundo precisa se submeter, caso queira continuar existindo um pouco longe do que é aceito por quase todos como margem.