Numa madrugada destas, revirando tumbas, encontrei uns arquivos mofados, postados tempos atrás num blog já extinto. Fiquei comparando coisas que acreditava com coisas que creio atualmente e foi engraçado notar que uma das crenças que hoje considero morta e enterrada é a que chamava de “teoria das afinidades”. Isto na prática é quando alguém está completamente convencido de que gostos pessoais sobre músicas, artes, cinema, literatura, religião, preferências sexuais, pontos-de-vista filosóficos e outros, são razões suficientes para entrar numa relação romântica com alguém, passando assim, para uma fase ainda mais crítica; a da promessa de compartilhamento de vidas. O problema desta fantasia ingênua é que ela incentiva a imersão num vínculo irreal de confiança, que pode com o tempo, fazer cair numa outra cilada perigosa, a da dependência emocional, geralmente mais destrutiva que o abuso de certas substâncias.
Contudo, a pior parte desta previsível ópera bufa, é que em certa altura da vida, quase todo mundo fica louco para sair por aí como um zumbi infectado mendigando afeto de perfil em perfil, com uma disposição incrível para aceitar coisas inaceitáveis, desde que estas signifiquem achar alguém para não se sentir solitário na existência, como se isso fosse mesmo a solução para as angústias do sentir-se só, ainda que não se esteja.
É um estágio tão sublimado, apesar de bizarro, que simplesmente inibe os “receptores” de autorrecompensa impedindo de perceber que o que se precisa realmente para lidar com a universal sensação de solidão que assola a todos do berço ao túmulo, é amar primeiro a si próprio, permitir que se desenvolva dentro do ser, a deliciosa habilidade de autogratificar-se.
Marielle: O seu silêncio é a nossa voz!
Há 6 anos