sábado, 13 de novembro de 2010

Numa madrugada destas, revirando tumbas, encontrei uns arquivos mofados, postados tempos atrás num blog já extinto. Fiquei comparando coisas que acreditava com coisas que creio atualmente e foi engraçado notar que uma das crenças que hoje considero morta e enterrada é a que chamava de “teoria das afinidades”. Isto na prática é quando alguém está completamente convencido de que gostos pessoais sobre músicas, artes, cinema, literatura, religião, preferências sexuais, pontos-de-vista filosóficos e outros, são razões suficientes para entrar numa relação romântica com alguém, passando assim, para uma fase ainda mais crítica; a da promessa de compartilhamento de vidas. O problema desta fantasia ingênua é que ela incentiva a imersão num vínculo irreal de confiança, que pode com o tempo, fazer cair numa outra cilada perigosa, a da dependência emocional, geralmente mais destrutiva que o abuso de certas substâncias.
Contudo, a pior parte desta previsível ópera bufa, é que em certa altura da vida, quase todo mundo fica louco para sair por aí como um zumbi infectado mendigando afeto de perfil em perfil, com uma disposição incrível para aceitar coisas inaceitáveis, desde que estas signifiquem achar alguém para não se sentir solitário na existência, como se isso fosse mesmo a solução para as angústias do sentir-se só, ainda que não se esteja.
É um estágio tão sublimado, apesar de bizarro, que simplesmente inibe os “receptores” de autorrecompensa impedindo de perceber que o que se precisa realmente para lidar com a universal sensação de solidão que assola a todos do berço ao túmulo, é amar primeiro a si próprio, permitir que se desenvolva dentro do ser, a deliciosa habilidade de autogratificar-se.

domingo, 7 de novembro de 2010

Mudança é um tema sempre recorrente no mundo blogger das ideias e provavelmente um dos papos mais pop em torno do assunto ainda seja o famigerado projeto Filtro Solar que assolou a internet no começo dos anos 2000 com um videozinho bacana narrado entre tantos, por Simone Spoladore interpretando o poema “Mude” do Edson Marques.
O final dos 90 foi mesmo o paraíso do xamanismo das palestras motivacionais que só aumentavam a culpa daqueles que acreditavam que mudar ou não era apenas uma questão de força de vontade, como se a mudança na essência, não apenas na aparência, fosse a coisa mais fácil do mundo de por em prática.
Mudar nunca foi uma solução definitiva, mas um estágio. Mudanças realmente significativas podem ser resultado de um conflitante processo anterior que levou uma vida inteira até estar completo.
Foi isso que o genial cartunista Laerte argumentou ao se revelar crossdresser numa entrevista à Folha de São Paulo. Alguns viram a coisa como uma tacada criativa de marketing para lançar a fase “trans” do personagem Hugo, já outros acharam porralouquice, viadagem mesmo.
Laerte está bem perto dos 60 anos, quem sabe tenha ficado meio de saco cheio de passar a vida toda tentando ser o que os outros queriam e ao beirar a terceira idade, decidiu com a cara e a coragem, ser o que sempre quis? Talvez seja melhor mudar para si próprio e de quebra, entender alguns porquês desta mudança, que mudar apenas para satisfazer o cruel crivo dos outros.

Muriel Total é o "blog confessionário" da Muriel/Hugo ou será do Laerte?