Foi há uns anos atrás, quando ainda havia proximidade e muita vontade de que as coisas acontecessem no lirismo dos que não querem mais acordar duma animação suspensa lambuzada com sorrisos. Se não me engano, foi numa tarde dum domingo que parecia deliciosamente monótona. Ela me enviava fotos dum passeio em Embu das Artes, onde havia estado no dia anterior com o cunhado e a irmã, comprando artesanato. Em cima daquele embalo, a gente foi na “fanta” de como seria dormir e acordar na calma dum lugarzinho minúsculo, não muito longe de Sampa por causa do trabalho. Durante as buscas no Google, apareceu Pirapora do Bom Jesus e lá ficamos viajando no que faríamos se nos fosse possível uma vidinha besta como a que o Drummond falou uma vez, numa casinha baixa com uma fachada de cores fortes. Viver ali quase como refugiados entre o metropolitano totalmente conectado e um rural onde ainda dava-se “bom dia” aos passantes bem antes de conhecê-los. Hoje eu nem sei se teria sido bom mesmo ou se teria surgido o enfado, já que no MySpace dela surgiram outras variáveis, outras possibilidades, outros desejos, outras caras, outros papos, outras vontades, outras cidades e com isso um afastamento previsível do que imaginei que era nosso. Pirapora é hoje somente um ponto no Google Earth onde desejos que agora estão há anos-luz um do outro, brincaram numa tarde dominical de querer incandescer um céu estrelado.
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Imbarueri na língua do indio é o lugar onde o amor bebe água. Onde a felicidade amarra o sapato. Imbarueri é do lado do lugar comum. Imbarueri, a linha de trem, um circo marrom. Imbarueri, um simples pardal, revólver azul. Imbarueri, Paris é New York, Tietê, Tatuí. Imbarueri, um índio tupi, um lobo guará. Imbarueri, o galo cantou, o rato sorriu. Imbarueri, um táxi feliz, só eu e você. 'Cê num sabe o que acontece ali. 'Cê num sabe o que acontece ali. 'Cê num sabe o que acontece ali... [ Mauricio Pereira e André Abujamra ]