sábado, 10 de julho de 2010

Quando chegou na sala, ele estava sentado nosso sofá, tomando café e assistindo TV. Ela sentou-se ao lado, recostou a cabeça no peito dele e perguntou como estava. Ele, sem tirar os olhos do que estava assistindo, respondeu que estava bem. Ela então quis saber se ele havia ficado surpreso com o que ela havia "confessado" sobre a nova amiga. Ele disse que sim, mas que iria ficar bem. Permaneceram em silêncio por algum tempo como se tivessem procurando algo além das reticências para conversar. Por fim, uma pergunta dela, se ele havia ficado decepcionado _ Deveria?_ disse ele em resposta. A isso, ela falou que não sabia, mas que gostaria de ouvir dele alguma coisa sobre o que haviam conversado na noite anterior.
Ele indicou que precisava de tempo para pensar melhor sobre tudo. Ela pediu o cigarro e deu uma longa tragada, depois comentou que sempre havia sido assim, que gosta bem mais de meninas, que embora ele nunca tivesse perguntado nada, tinha sido assim em todo esse tempo que estavam juntos. Quando queria um pau diferente, saia e procurava por um, aleatoriamente, sem apego, desculpas ou demais justificativas, quando queria uma transa diferente, procurava uma mulher, uma a quem tivesse afinidades, mas quando queria algo melhor que tudo aquilo, procurava por ele, a quem amava nem como homem, nem como mulher. Ela devolveu-lhe o cigarro e pediu um abraço. Um que fosse forte e demorado.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Não creio que outsiders sejam produtos de  uma escolha planejada. Ninguém acorda numa manhã e diz_ daqui pra frente vou ser é gauche na vida! Se acreditasse também nessa de conspirações cósmicas orquestrando o universo como se fossem mãos divinas manipulando cordas de marionete numa farsa fossilizada de tão antiga, poderia dizer que é destino o ser outsider, que é fado, no sentido mais concreto da palavra!
Ao contrário disso, ser outsider é na minha opinião, mais ginga do que jingle, é de nascença, não um mero estereótipo, mas um modo de pensar a vida, é como possuir no DNA, um gene marginal. Existe muito poser tirando onda de outsider e são como tatuagem de henna, falso piercing, bandana de grife comprada em shopping da Barra da Tijuca. Na hora de esticar o braço e cortar fundo a veia pra sentir o frio; amarelam. É por isso que acho que o outsider não é feito apenas de aparência. Existe nele um modus operandi, uma maneira particular de equacionar variáveis e obter delas alguma coisa crua, mesmo que não sejam muitas, mesmo que não sejam nada. Para o outsider ser nada hoje ou daqui há 10 anos tanto faz! Ele chega na beirada, amaldiçoa a si próprio, amarra o elástico no tornozelo e pula.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Zeca Jagger. Era com esse pseudônimo que ele, nos anos 70, assinava a coluna numa revista de comportamento que ajudou a me criar na adolescência. Juro que não to falando disso pra dar uma lambidinha na saudade, mas porque me lembrei duma fase meio esquizo na minha antiga vida de All Star laranja e Levi´s bordô. Eu adorava Dance Music, mas tinha medo que minha galera, que só curtia Hard Rock, soubesse. Numa escola classe-média, confessar ser amante de música de preto naqueles dias era o mesmo que implorar pra ser "bullingnado". Sempre tem os que morrem de medo de parecer, aos outros, mais pretos do que de fato são. Saca o enrustimento? Imagine vestir uma camiseta com estampa do Black Sabbath e por dentro, estar doido pra sair cantando_“Aaahh Freak out! Le Freak, C'est Chic”?
Passam-se os séculos e a necessidade de mostrar para os outros (sempre os outros) que se é assim e não assado, não passa! Mas um dia acaba, como disse Cazuza, que zerou a necessidade dele bem mais cedo do que o Zeca, seu velho parceiro de roleta-russa.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sendo raso, no fim das contas, tudo é como dar um dois, um teco, um pico, um trago, um tapa! É como chapar, chamar, rangar, traçar uma grande barra de Toblerone! E a coisa toda vai direto pro mesmo ponto convergente da carência, da solidão e do desejo, em algum lugar lá dentro, tentando tapar um buraco que só cresce e não fecha, um saco frágil sem fundo que chora, chora, querendo mamar. E assim se despe e fode, mete, chupa, lambe ou apenas beija! E se diz enfim; “te amo, meu amor, meu bem, minha vida, minha mulher, meu homem”. Se chama o outro assim, somente para dar nome aos bois que se come, come, sem jamais conseguir saciar a fome.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Dizem que na mesma época em que Sidarta Gautama estava para se tornar O Iluminado, havia no sul do país, outro sadhu também considerado santo, sábio e igualmente em condições de se tornar um Buda. Curiosamente, um não sabia da existência um do outro até serem convidados por um governador de província a fim de terem sua professa sabedoria testada pela filha de 12 anos do regente. A menina se aproximou dos dois e colocou um pequeno cágado nas mãos de cada um e em seguida perguntou ao primeiro;
_ O que acontecerá se você o soltar?
_ Ele cairá. Afirmou o sadhu.
_ Solte-o então! Ordenou a menina.
Ao abrir a mão e soltá-lo, o cágado ficou parado no ar.
Ela caminhou até Sidarta e fez a mesma pergunta. Ele olhou-a fixamente nos olhos e por fim, respondeu;
_ Eu não sei!
Ao dizer isso, a criatura que pairava no ar caiu batendo com o casco no piso do pátio. Sidarta então devolveu cuidadosamente para a menina o animal que havia permanecido o tempo todo nas mãos dele.
                                                                                                                                                            
                                          A CONFRARIA DOS FAUNOS, 2005.
Ando pensando seriamente em abrir um novo templo! Em principio chamaria de “Caminho da Massa Frita Celestial” e naturalmente acolheria apenas os adoradores de pastéis, essa fina-flor da gastronomia popular. Existem algumas controvérsias sobre a origem do saboroso quitute, uns apontam a China como a fonte da delicia e mais tarde creditaram os jesuítas portugueses como os transmissores do culto do deus-fritinho por terras Ibéricas. Há quem diga que aqui em Pindorama, a gostosura chegou com a imigração japonesa, na forma de uma adaptação do gyoza, algo bem semelhante ao que conhecemos hoje, com a diferença deste, ser frito em pouco óleo_ ao contrário do pastel tipicamente brazuca_ e com carne de porco e legumes. Uma história (historicamente não apurada) diz que durante a Segunda Guerra, Japoneses residentes aqui no Brasil, para fugir do preconceito “brabo” contra eles, passaram a vender pastéis como uma forma de se passarem por chineses. Sampa tem um pastel maravilhoso e famoso, mas há aqui Rio (no Grajaú) uma “capela” chamada Bar do Adão, que serve um pastel pra comer de joelhos, mas quem não se sente muito à vontade com as minhas figuras ligando culinária ao sagrado, posso usar o profano e sendo assim, também temos por aqui, um tesão de endoidecer conhecido por pastelzinho de feira, que é simplesmente um orgasmo!