sexta-feira, 30 de outubro de 2009


Autoconhecimento talvez seja uma palavra platônica (“conheça a ti mesmo”) tão clichê quanto aquelas contidas nas frases de impacto de livros de autoajuda. Entretanto, pode ser que ela também defina um dos elementos que eu considero de suma importância quando estamos prestes a tomar decisões de vida ou morte. Vejo muita gente em conflito suicida se perguntando em algum momento da própria vida_ não sei o que eu quero_ se caso ou se compro uma bicicleta. Considero bastante aceitável estar em duvida sobre o que fazer com a própria vida, afinal como diz o Abu_ A vida é nossa e cabe somente a nós estragá-la como quisermos. Considero importante levantar essa bola antes de tentar uma cortada, mas acho que mais importante que tomar uma decisão no impulso, no calor do entusiasmo da alegria, na pressão, seja esta, do grupo de amigos, família, religião, do fundo dos nossos desejos ou da secura de nossas carências, é saber porquê estamos optando por isso e não por aquilo. Usando ainda o vôlei como figura, pode ser que saber os motivos de ter entrado no jogo e continuar nele sejam mais importantes que saber se vai ganhar ou perder. Talvez a urgência não seja casar ou comprar uma bicicleta, mas saber qual das duas coisas atende realisticamente ao que você de fato necessita no momento, pois quem sabe pensando com calma consigo próprio, descubra que não precisa de nenhuma das duas ou num outro enfoque que precisa de ambas. Sem se conhecer muito bem, pode ser que opte pelo casamento ou pela bicicleta apenas porque todo mundo que você conhece está casando ou pedalando. Nesse caso, o problema na verdade não é o veículo nem o estado civil, mas o medo de sentir-se inferior quando comparada e estar agindo em conformidade com a maioria apenas para ser aceita. Por incrível que pareça, arrependimento e falta de autoconhecimento costumam trombar muito pela larga avenida das decisões.
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Há um livro muito "cabecinha" sobre o significado de “cuidar de si próprio” com base no individualismo do autoconhecimento.
A Hermenêutica do Sujeito - Michel Foucault
Só um aviso; Cuidado. Foucault não é autoajuda. Foucault é Foucault.