sábado, 4 de dezembro de 2010

Superestimamos demais os encontros! A verdade é que amor nenhum é boa medida para calcular os reais custos de um romance. Alguns a quem amávamos até os ossos, se tornaram com o tempo, algozes que simplesmente não conseguiam mais evitar nos fazer sofrer. Muitas vezes, é com alguém que nem amamos tanto, que podemos talvez, trocar coisas maiores e quem sabe até melhores que as que foram trocadas um dia com um amor que mesmo quando jurava não querer, só sabia nos adoecer e arrancar pedaços.


O Caetano e o Kid Vinil apostam que é assim que se faz um grande poeta.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O ciúme é o pior dos resíduos gerados por um encontro. Infelizmente deve haver pouquíssimos amantes capazes de desenvolver imunidade a ele ou que consigam lidar com isso sem apertar um gatilho que dispare desastres passionais. Estar amarrado num pacto fechado sempre cria um ambiente favorável à algum tipo de manifestação destrutiva por causa do medo de perder a posse do objeto do afeto, e claro, isso também pode acontecer até mesmo num pacto aberto.
Faz parte das promessas do romance alimentar a ideia de que alguém nos pertence, transformar o outro numa propriedade. Esse estado de coisas costuma ficar pior ainda quando ambos decidem usar o mito da fidelidade como instrumento para medir o grau do amor que cada um diz que ainda sente. Mesmo nos casos onde não existe interesse na infidelidade, a parte mais suscetível ao ciúme, se torna tão insegura que fantasia a figura de um ente imaginário interferindo num sistema em que cada um acredita estar orbitando seu par. Com o tempo, se passa a vigiar discretamente ou ostensivamente a rotina do outro, num inferno diário que muitos levam até os limites da insanidade, porque viciados em romance são reféns da própria carência e  precisam desesperadamente extrair deste cativeiro superestimado, alguma coisa que imaginam que valha à pena.
Estou convencido de que pessoas que sentem grande necessidade de ter um espaço particular em suas vidas, não deveriam se comprometer num romance. O próprio comprometimento já é uma contradição, pois torna impraticável a existência de uma área privada na vida de quem decide ter uma história em comum. Pode ser desconfortável para alguns pensar sobre isso, eu sei, mas é possível que a única maneira de ser realmente livre nessa questão é estar profundamente apaixonado apenas por si próprio.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010


É fim de noite na pequena Ilha caribenha e não se pode chamar apropriadamente de festa o ruidoso evento em andamento no quinto andar do Ambos Mundos. Mesmo que uma parte do que é comumente servido em festas estivesse circulando livremente sobre bandejas reluzentes, a melhor definição para o que acontecia naquele exato momento no quarto 511 era: um encontro particular entre amigos com a presença de convidados desconhecidos que não se importavam nem um pouco em receber dinheiro para estarem ali. O motivo não poderia ser mais apropriado: uma despedida. Não que alguém estivesse de partida para algum lugar distante, haveria apenas uma mudança de endereço dentro da mesma cidade. Por sete anos, o ilustre gringo velho que ocupava aquele quarto, havia passado neste lugar aprazível, alguns dos melhores anos de vida dele, portanto, aquela estava sendo a última noite dele no hotel pintado de rosa-flamingo.
Enquanto Bandeira pega seu Panamá e sai discretamente do quarto acompanhando o marinheiro catalão que acabara de conhecer, o velho gringo dança vacilante um tango silencioso com uma jovem nua chamada Dolores. Aproveito a distração para ler a capa do calhamaço datilografado em uma Hermes Cursiva preta, que jazia sobre a escrivaninha. For Whom The Bell tolls, era o que aparecia centralizado em caixa alta na folha de rosto. Fiquei bastante curioso em saber quem era o merecedor da reverência do sino, mas a minha atenção começou a ser roubada por outra Dolores, uma que estava me dando entre outras coisas, um sorriso iluminado, um beijo nos lábios e um copo de absinto.