Foto: Peter Schmid / Cortesia de Lee Berger / U. Witwatersrand / AP |
A solução foi botar para funcionar a cabeça que comandava uma mãozinha com polegar opositor e começar a inventar. Pegou uma pedra grande para quebrar semente dura até a pedra rachar em dois pedaços de lâmina afiada e cortante. Sem querer, alguém passou o dedo no fio e cortou o dedo, saiu sangue e powww!!!! Uma coisa vai encaixando na outra e depois de uns tempos de tentativa e erro, sacou-se que ser criativo pode ser mais poderoso que ter garras, caninos, asas, chifres, tromba ou enxergar muito bem na escuridão.
A inventividade, contudo, só resolvia uma parte do problema, ainda tinha o medo duma Coisa que todo mundo sabia que existia, só não sabia o nome e nem de onde vinha. Só sabia que a Coisa sempre vinha! Nem sempre pelas garras, pelos caninos, mas às vezes do corpo ativo falhando, do pelo embranquecendo, depois duma queda, dum corte mal cheiroso enegrecido, dum osso quebrado. Estando acordados ou dormindo a coisa vinha, pegava e levava para onde ninguém sabia.
A criatividade ajudou a dar um nome a essa Coisa e com o tempo, um monte de coisas iam ganhando nome. A criatividade é ótima para dar nomes e formular perguntas, mas é melhor ainda para inventar as respostas. Nessa época, o hábito de inventar respostas ainda não tinha nome, mas com o tempo passou a ter. Chamaram de totem, culto, credo, “pensamento mágico”, religião, filosofia, iluminação e recentemente surgiu um novo nome. Um que agrada aos que duvidam e desagrada aos que temem que ele mate deuses. Só que ninguém pode matar divindades pois vivem dentro que constroem altares e santuários para barganhar por prosperidade, salvação, saúde, boa colheita, do retorno em três dias dos amores idos. Porém, o maior medo dos barganhadores, ainda hoje é não serem acolhidos bem, lá onde a Coisa os leva! Lá onde ninguém sabe muito bem.
É bem verdade que nós, curiosos medrosos criativos, sempre barganharemos com os deuses em busca de respostas para as perguntas que nos assustam desde o tempo em que temíamos os urros, uivos, garras, caninos, asas, chifres e lógico, a escuridão.