sábado, 21 de maio de 2011

Fim de noite na ilha caribenha. Não se pode chamar apropriadamente de festa o ruidoso evento em andamento no quinto andar do Ambos Mundos. Mesmo que uma parte do que é comumente servido em festas esteja circulando livremente sobre bandejas reluzentes, a melhor definição para o que acontece neste exato momento no quarto 511 é: um encontro particular entre amigos, mas com a presença de convidados desconhecidos que não se importavam nem um pouco em receber dinheiro para estarem ali. O motivo não poderia ser mais apropriado: uma despedida. Não que alguém estivesse de partida para algum lugar distante, haveria apenas uma mudança de endereço dentro da mesma cidade. Por sete anos, o ilustre gringo velho que até esta noite, vinha ocupando o quarto, havia passado aqui, alguns dos melhores anos de sua vida, sendo que esta é a última noite dele no hotel pintado de rosa-flamingo.
Enquanto Bandeira pega seu Panamá e sai discretamente do quarto acompanhando o belo marinheiro catalão que acabara de conhecer, o velho gringo dança vacilante um tango silencioso com uma jovem nua chamada Dolores. Aproveito a distração dele para ler a capa do calhamaço datilografado em uma Hermes Cursiva preta, que estava sobre a escrivaninha. For Whom The Bell tolls, era o que aparecia centralizado em caixa alta na folha de rosto. Fiquei bastante curioso em saber quem poderia ser o merecedor da reverência do sino, mas a minha atenção começou a ser roubada por outra Dolores, uma que estava me dando entre outras coisas, um sorriso iluminado, um beijo nos lábios e um copo de absinto.

sexta-feira, 20 de maio de 2011


Por conta de algumas questões paralelas (Chico) e por estar navegando em mares nunca d´antes navegados (Facebook), abri o acesso à anônimos, mas ativei a moderação. Não gosto muito desse tipo de filtragem ou da manutenção de conteúdos fechados no Facebook ou no Twiter, mas no caso do Blog, se precisa ser assim, assim será.


Boa parte do que pode ser considerado fator de identificação social, vem do que é percebido e aceito coletivamente como realidade. No geral, poucos conhecem a fundo a origem de suas próprias convicções. Para tais, estas certezas se baseiam na tradição oral ou escrita (códice), que são registros antigos daquilo que se imaginou ter visto, percebido, ouvido, tocado ou sentido como resultado do que foi transmitido culturalmente através dos séculos por antepassados.
Isto quase sempre produz uma sensação de segurança e significado devido ao apego àquilo que cada indivíduo considera como razoavelmente explicável ou satisfatóriamente inexplicável. Jung acreditava que esse forte laço passional a uma doutrina, é motivado pela sensação de impotência em lidar com o luto, com a vulnerabilidade e desamparo quando se lida com a iminência da morte. É possível que também venha dessa experiência, as razões usadas para administrar o que é considerado real ou surreal.



Há muito tempo no passado, durante a organização daquilo que seria mais tarde conhecido por consciência, nossa espécie imprimiu nas paredes de algumas cavernas escuras, os primeiros documentos de como o mundo natural (real), se mistura ao que se "vê" nos sonhos (surreal), resultando nas primeiras noções de sobrenatural que serviria de base para a maioria dos conceitos religiosos adotados hoje como realidade.
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No documentário A Caverna dos Sonhos Esquecidos, o diretor alemão Werner Herzog deixa claro que a criatividade é o maior e mais valioso legado humano.