quinta-feira, 29 de outubro de 2009


QUASE OLHAR DE DOCUMENTÁRIO
Quero avisar que é forte a minha tara pelo cinema digital, principalmente quando feito fora de Hollywood. O mais engraçado é que nem sempre pensei assim. Houve um período na minha juventude que eu compartilhava do mesmo preconceito que muito cinéfilo da minha geração tinha por tudo aquilo que não fosse captado em película. Havia um credo na época que via no videotape um subproduto que empobrecia qualquer imagem. Não eram perdoados nem mesmo os enlatados americanos do final dos anos 70 como “Tomorrow People” e “Land of the Lost” http://www.youtube.com/watch?v=GrRCzWp79BE rodados sem o mínimo pudor em VT. Ainda mais com efeitos especiais considerados toscos entre “entendidos”. A coisa era tão barra pesada que tudo que fosse colocado numa fita que não precisasse ser revelada, era visto como “resíduo visual” pelos sacerdotes das maravilhosas imagens sem mácula feitas por uma Panaflex 35mm. A bitola não importava, se não fosse 35, podia ser 16 e até mesmo em super 8, o que não podia era fita magnética, formato destinado a virar base para imagens de telejornal, shows musicais e telenovelas. A “teoria da libertação” do VT veio em 1981 com a MTV onde clipes com imagens gravadas com câmeras compactas, evoluídas do U-Matic para o Beta, mais sofisticadas e com uma edição repleta de efeitos dos primórdios da computação gráfica começaram ser aceitas por um novo público. O videoclipe inaugurou a era da supremacia das ilhas de edição, sem falar na imensa redução dos custos de produção quando comparado ao preço de uma única lata de rolo de filme.
Meu olhar se rendeu ao "novo jeito de filmar" pela primeira vez com “Blair Witch Project”, lá pelo finzinho dos anos 90. O filme rodado em digital da primeira geração, foi tratado na pós para parecer com imagens feitas no finado sistema VHS. Vale lembrar que ainda estávamos vivendo no paraíso das populares câmeras compactas caseiras de vídeo (VHS) e o público estava mais que familiarizado com aquela baixa qualidade de imagem. Pouca gente percebe, mas outra grande mudança que o digital incorporou está na linguagem, no posicionamento da câmera (mais leves, dispensam o uso de tripé), na iluminação e principalmente na estrutura dos roteiros que tendem a conter diálogos imitando o jeito coloquial que falamos no dia-a-dia.
Atualmente, a novíssima geração de câmeras digitais e softwares de edição estão gerando imagens de altíssima definição superiores até a qualidade de pontos por definição das antigas câmeras óticas. Tudo que sai de Hollywood hoje em dia mostra o que uma Panavison digital de milhares de dólares é capaz de fazer. Pra mim isso é uma pena, porque alta definição é exatamente o contrário de tudo o que eu busco num digital. Depois de “Bruxa de Blair”, o trabalho que, na minha opinião, mais faz justiça ao usar o formato com originalidade, reunindo o que ele tem de melhor, tratado com habilidade sobrenatural ao mesclar efeitos visuais de primeira linha, narrativa de documentário e um roteiro duka é o inacreditável “Cloverfield”, de 2008, cultuado com fervor entre os amantes do formato.

A seguir alguns petiscos em "digital sujo" para quem tiver a fim de experimentar e se lambusar;

Cloverfield
http://www.youtube.com/watch?v=IvNkGm8mxiM&feature=fvw

This is England
http://www.youtube.com/watch?v=H0jkv2bRFgQ

Mutum
http://www.youtube.com/watch?v=Ob2j29lZUog

Contra Todos
http://www.youtube.com/watch?v=s2-LDB9tu9o

Pieces of April
http://www.youtube.com/watch?v=pQ36CnCL3OE

Tem também "Feminices" http://www.adorocinema.com/filmes/feminices/ do meu amado Domingos de Oliveira, que não achei nada no YouTube, mas que vale a pena experimentar quem conseguir achar em outro lugar.

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