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“Um dia, como filhos da natureza, fomos irmãos e irmãs de todos os vivos!” Isso dito assim soa meio “Avatarzado”, e pior ainda, quando contraditoriamente falado aqui do alto da segura árvore da prosperidade neoliberal, onde vivemos sem reclamar dessa deliciosa doutrina do consumo sem freio e sem culpa. Mas se algum dia, em nome de salvar “Pandora”, fôssemos obrigados a descer e voltar a viver uma espartana vida mega-alternativa de bosquímanos e aborígenes, sentiríamos na pele que se há uma coisa que a natureza não tem é pena... de ninguém. Segundo Dawkins, nossa velha boa mãe é egoísta, xenófoba, violenta e tá pouco ligando para quem não sabe se virar no solitário ou no gregário, na marra ou na esperteza, que é o outro nome do oportunismo. Nesse ponto podemos dizer que somos na essência filhotes dela. A natureza adora nos ver ralar até chegar aos ossos, até estar tudo quase por um fio, pois para ela, quando desfrutamos por um pouco do estar vivo e aproveitamos esse tempo para reproduzir, já basta, é o grande prêmio. Estar à beira do precipício é que faz surgir o par de asas. O fim dos dentes é o começo do bico. Ficar muito dentro d´água cria nadadeiras.
Às vezes nos meus momentos mais "Woodstock" penso ingenuamente que seriamos infantilmente felizes se vivêssemos o simples, desprovido de posses, ruralmente assentados, vegans, orgânicos e puros! Uma existência verdadeiramente in natura apenas pelo existir, tal como parece ser para qualquer outra criatura que infesta o planeta. Depois volto a lembrar que uma vez em eras passadas tivemos uma existência assim, mas sabe-se lá o porquê, fomos nos mudando e nos complicando, talvez porque no fundo, no fundo, o simples existir já não nos bastasse mais.