quarta-feira, 30 de março de 2011

Nem sempre é fácil falar sobre os frutos colhidos do acúmulo de anos que faz  as costas encurvarem, sem ficar pretensiosamente parecido com um mestre tibetano, um Yoda de 600 anos, dotado de uma fonte interior inesgotável de sabedoria, serenidade e equilíbrio. Já para os que querem evitar essa pretensão ao falar desses anos, é necessário reconhecer primeiro que o aprendizado pessoal, por mais promissor que tenha sido, se baseia numa experiência particular produzida por inúmeras tentativas desesperadas de corrigir os próprios erros e que tal conhecimento adquirido, por mais valioso que seja, pode não se encaixar muito bem na visão que outros tem sobre seus próprios problemas.
É preciso admitir quão tentador é se fazer passar por um monge zen de espírito centrado, conselheiro amável, possuidor de todas as virtudes do mundo, quando na verdade, debaixo de toda esta aparente paz, existe apenas uma alma cheia de cicatrizes com algumas lembranças esmaecidas, que toda noite se projetam no teto sobre a cama e teimam em não desaparecer completamente.



Domingos de Oliveira dirige e interpreta o próprio texto com o prazer de quem degusta uma iguaria rara.

terça-feira, 29 de março de 2011

Na comédia antirromântica Up In The Air, há uma cena onde Natalie Keerner, 23 anos, uma executiva em franca ascensão profissional, chora desesperadamente porque o noivo a quem ela venerava meteu-lhe o pé na bunda via torpedo. Ao desabafar sobre isso, ela filosofa_ Para nós (jovens mulheres urbanas), não importa o quanto se conquistou profissionalmente, pois nada disso vale a pena quando não se tem o “cara certo” ao lado.
Será mesmo? Será que não há nada mais importante na vida, que passar rapidinho por ela, correndo atrás do “cara certo”? Talvez haja pouca utilidade em debater sobre isso e só trouxe esse detalhe à tona porque li que a rede HBO/Brasil está produzindo mais um seriado baseado na vida de jovens mulheres urbanas e seus relacionamentos complicados.



O HBO inclusive, já havia produzido a série Alice e a Globo, Aline, dois trabalhos sobre o mesmo tema que sofreram baixíssimos índices de audiência. Taí uma coisa para pensar: se os números do Ibope indicam claramente que público de TV paga ou aberta não anda muito a fim de assistir isso, por que então alguns roteiristas não largam o estereótipo e trabalham em retratar jovens mulheres urbanas através de questões supostamente mais interessantes?