sábado, 11 de dezembro de 2010

POEMINHA DO HEDONISTA DISTRAÍDO

Agora, já de madrugada
Quase caio na cilada
Do lero duma fulô
Pé de pato, mangalô!
Pé de pato, mangalô!
Pé de pato, mangalô!

(2010)

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Sim, Já estive engajado. Defendia com unhas e dentes, ideias que considerava urgentes, em parte, por acreditar que realmente poderiam ser possíveis. Não é assim que funciona a militância?
Na juventude, a razão foi o desejo de contribuir para um mundo justo para todos. Já balzaquiando, achei que seria legal mergulhar de cabeça num processo mais espiritual, uma vez que a política partidária não conseguiu realizar o que eu acreditava, pensei_ quem sabe uma fonte literalmente mais elevada, não conseguiria?
Hoje, pegar em armas, sejam elas, fuzis ou livros santos, não me interessa mais, contudo, admiro bastante os que atuam nas causas justas. É sem dúvida algo melhor que extravasar frustrações metendo porrada em mendigo, mulher, preto, gay e nordestino. Acho que estar envolvido num domquixotismo qualquer pode dar mais significado à vida que passar o dia consumindo plástico, algemado na rede em busca de coisas da moda, paixões descartáveis, nutrindo tesão pela anorexia ou comprando tecnotrecos. Se pareço ressentido, me desculpem, é minha alma corsária ainda tentando achar a saída.
Quando vejo o Bono fazendo mídia em Fórum Social, acho justo, como também acho legal estrelas pop entediadas adotando crianças sudanesas! Mas fico pensando se não deve haver mais coisas, além dessa retórica ativista neo-hippie. Percebo que a mecânica do inconformismo, décadas depois de On the Road e Woodstock, pode estar finalmente saindo da adolescência e entrando num território bem menos WWF, Peta ou Greenpeace de ser. Alguns, ligados no momento, estão deixando para trás os anos 80 e pulando fora do Rainbow Warrior. Quem sabe até para militar nesta nova frente que estão chamando por aí de WikiLeaks.



quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Quando alguém se aproxima do hedonismo, quase sempre começa achar meio sem sentido o secular culto à carência e ao sofrimento que faz parte da santificação do estado de vítima, bem difundido pela nossa formação cristã ocidental. Diferente do masoquismo clássico, em que a dor é um elemento erótico que conta com um agente sádico para operar um instrumento de satisfação onde todos assumem conscientemente os riscos, a apiedação monoteísta age como cabresto para tentar conter possíveis rebeliões contra um sistema que privilegia muito mais os que tomam (nem sempre à força), que os que cedem passivamente.
No monoteísmo ocidental, a condição agnus dei (vítima sacrificial) é celebrada publicamente como desejável e imagina-se que tal destino por si só, já satisfaça a divindade que o exige. Há nesse pensamento, um nítido induzimento à autopiedade, uma negação culposa dos próprios desejos. Nietzsche foi demonizado quando criticou este tipo de submissão em Assim Falou Zarathustra.
O controverso termo “super-homem”, numa tradução infeliz para “übermensch”, mostrava que a questão ali não era a rebelião humana contra o sobrenatural, mas a adoção sem resistência da fragilidade como o único meio de vida possível, num caminho considerado por ele, contrário ao da natureza. Nietzsche sabia que “übermensch”, não significava uma busca inútil para atingir o estágio mitológico de um ente sobre-humano, significava apenas que talvez houvesse uma escolha melhor que contentar-se em sofrer, lamentar a própria sorte, apegar-se ao medo paralisante da solidão, da angustia de não se ter alguém para injetar "amor" indefinidamente no sem-fundo da carência ou esperando que uma força externa solucione por nós, crises internas por meios mágicos.
Curiosamente, Mario Quintana, que certamente não era um "poetazinho da autoajuda" que vários aprócrifos piegas atribuídos a ele, sugerem na internet, chegou a uma conclusão bem parecida a de Nietzsche em alguns dos poemas da coletânea Apontamentos de História Sobrenatural (1976). A natureza que é muito mais antiga que todas as divindades, tem desde sempre, administrado sem dó essa arena onde pouco imorta viver ou morrer, pois a única coisa que realmente sustenta nossa brevissima existência é a luta.



Em “300”, Leônidas contraria os deuses e assume: "Tonight! We’ll dine in hell".