Tenho pedido a deus todos os dias que me livre da dolorosa sina dos poetas! É pesada demais! É o único tipo de morte que realmente me amedronta.
terça-feira, 22 de junho de 2010
Todo mundo é menos maluco do que costuma forçar parecer que é. Na maioria dos casos, o surto é cena, blefe, pirraça, bravata ou pura fita. A raiva gerada pela constatação dos próprios fracassos e pela incapacidade de lidar com a frustração que costuma vir depois disto, pode parece loucura, mas só parece. Não é, porque da loucura não há volta!Demente que é demente não fica no quase, na ameaça! O Louco de pedra não reza, não conta até dez, não mede, nem treme. Pirado que é pirado vai e morde a pata do vira-lata, rasga dinheiro, discute em voz alta com Deus numa esquina entre a Angélica e a Paulista. Lesado que é lesado tira as calças e sai voando com asas abertas. Não asa qualquer, asas de mariposa negra da Nova Guiné. Já o lelé que é lelé jura que na sexta-feira passada, esteve com Nossa Senhora no balcão duma farmácia em Brás de Pina. Vinte e dois que é vinte e dois, mija fazendo chuveirinho par o alto na praça, não fica corado, nem cede um milímetro a ficar sem graça. Só não confunda um genuíno alucinado com um exibicionista se passando por inconsequente. Este último, espertamente dissimulado, se enquadra apropriadamente na categoria dos hábeis marqueteiros de si próprios. O que faz do doido, um doido, não é o disparate, o desatino, é a ausência de razões para cometê-los. É o delírio o que dá acesso ao privilegio de pertencer à nobre casta dos insanos! Deve ser por isso que a prova incontestável para que alguém seja definitivamente considerado doido varrido é quando ele deixa claro pra Deus e o mundo que não tá nem ai, ou melhor, que tá sim, que tá cagando e andando pra aquilo que pensam ou falam a respeito dele.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Tempo Rei
Não me iludo, tudo permanecerá do jeito que tem sido, transcorrendo, transformando tempo e espaço, navegando todos os sentidos. Pães de Açúcar, Corcovados, fustigados pela chuva e pelo eterno vento...
Água mole, pedra dura, tanto bate que não restará nem pensamento. Não se iludam, não me iludo! Tudo agora mesmo pode estar por um segundo. Tempo Rei! Oh Tempo Rei! Oh Tempo Rei! Transformai as velhas formas do viver...
Tempo
"O tempo é o maior tesouro de que um homem pode dispor. Embora, inconsumível, o tempo é o nosso melhor alimento. Sem medida que eu conheça, o tempo é contudo nosso bem de maior grandeza. Não tem começo, não tem fim. Rico não é o homem que coleciona e se pesa num amontoado de moedas, nem aquele devasso que estende as mãos e braços em terras largas. Rico só é o homem que aprendeu piedoso e humilde a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura. Não se rebelando contra o seu curso. Brindando antes com sabedoria para receber dele os favores e não sua ira. O equilíbrio da vida está essencialmente neste bem supremo. E quem souber com acerto a quantidade de vagar com a de espera que deve pôr nas coisas, não corre nunca o risco de buscar por elas e defrontar-se com o que não é. Pois só a justa medida do tempo, dá a justa 'atudeza' das coisas
Lavoura Arcaica (Raduan Nassar)
Time
Ticking away the moments that make up a dull day. You fritter and waste the hours in an off hand way. Kicking around on a piece of ground in your home town. Waiting for someone or something to show you the way
domingo, 20 de junho de 2010
Uma querida recém-divorciada, que hoje está na faixa dos cinquentinha e por enquanto, evitando novos candidatos, me mandou ontem o artigo, “O Marido como Capital”, da Mirian Goldemberg. Lembrei de uns anos atrás, quando éramos muito jovens, de ter comentado com ela que considerava o casamento tradicional, aquele que implica numa adesão aos tradicionais papeis de marido/esposa, um retrocesso, sobretudo, para mulher. Ela, recém-casada na época, discordou e disse que eu estava sendo ranzinza citando o já mofado e falacioso discurso feminista de mademoiselle Beauvoir. Talvez eu tenha usando sim um tom panfletário ao dizer isso. Hoje não sei se me sentiria à vontade em fezer tal comentário, não por ter mudado de opinião, mas porque percebo que para algumas pessoas faz sentido exibir à sociedade, um marido como um troféu, como um patrimônio desejado na disputadíssima na galeria do; “olha gente como eu sou feliz”, ainda que isso seja nos bastidores, o conhecido espetáculo; “não sou feliz, mas tenho marido”.
Hoje à noite vou à festa de Babete refestelar-me numa mesa farta de vinho e vísceras! Na festa de Babete beberei todo meu passado e comerei todo meu futuro. Me autoconsumirei tão completamente, que nem a mínima sobra, servirá para contar alguma história.