Um amigo apareceu aqui ontem lá pelas tantas da noite. Estava meio agitado, cheirava a cerveja e dizia estar cansado das argumentações sem fundamento, usadas apenas para tentar provar quem tem mais razão. Se sentia cansado do ciúme fantasioso, do teatro para tentar fazê-lo se sentir culpado. Bastava pensar um pouco mais em projetos pessoais, para a falta de sintonia até pra decidir coisas banais, gerar uma feroz discussão inútil pelos mesmos motivos banais. O que alivia um pouco a minha culpa de estimação, é isso, é perceber os amigos da mesma geração se debatendo diariamente no mesmo tipo inferno doméstico.
As pessoas não são iguais, graças a Deus, nem suas histórias, obviamente. O que parece não mudar nunca nessa cotidiana intimidade pequenoburguesa é a insistência em usar, seja por comodidade, falta de criatividade, por formação, tradição, medo da solidão ou medo de sei lá o quê, o mesmo modelo popularmente aceito de coabitação. Em muitos casos, usa-se até as mesmas palavras com a mesma entonação_ “filhão”, “maridão”, “benhê”! O problema é quando alguns começam a pensar sobre suas vidas e se descobrem não compatíveis! Não à pessoa com quem dividem a mesma cama, mas ao papel que cada um decidiu representar dentro daquilo. Conheço casais que depois de separados e morando em casas diferentes, voltaram a se encontrar outra vez, mas como namorados apenas e sem chance alguma de voltarem a viver novamente debaixo do mesmo teto.