sexta-feira, 21 de agosto de 2009



Juiz de Fora
Sábado
06 de janeiro de 2007
18h45


_Que cara é essa?
_ Pensando...
_ Sobre...
_ Sobre como as coisas estão ficando diferentes...
_ É eu sei...

_ [ ... ]

_ Também não sei o que dizer. Às vezes penso que a culpa é minha, outras, que é sua.
_ Por que não, minha e sua?
_ Isso é o que todo mundo diz sempre, mas a gente sabe que tem alguém que dispara primeiro a pedrada do fim.
_ A gente ta no fim?

_ [ ... ]

_ Tamos?
_ Eu não sei... mas cê ta vendo como tá...
_ Eu tô com medo.
_ Medo de ser mesmo o fim?
_ Medo de descobrir que isso é tudo que eu tenho. Medo que você seja tudo o que eu tenho.
_ Me desculpa... eu não sei o que fazer, o que te falar...
_ Você quer ir?
_ Uma hora alguém tem que ir...
_ Você já tem pra onde ir? Ele é alguém que eu conheço?
_ Não há ninguém, juro.
_ Você tá dizendo isso pra não me machucar...
_ Não to não. Não há mesmo ninguém. Se tivesse eu contaria, cê sabe como eu sou.
_ É... eu sei...
_ Você é meu amor...
_ Sou?
_ É sim... acho que eu preciso quebrar um pouco a cara, me fuder um pouco. Você é maravilhoso, sempre compreensivo, maduro, ponderado, um companheiro... nossa vida é legal, eu curto a gente aqui... penso nisso e fico triste por estar agindo assim. Acho que eu quero uma coisa que eu não sei ainda. Às vezes penso que é alguém, uma pessoa nova, uma nova vida longe daqui. Fingir que eu sou outra, sei lá! Cê me perdoa?
_ Pelo o quê?
_ Por isso que eu não entendo.
_ Não esquenta. Eu sempre soube que às vezes todo amor do mundo não basta, mesmo um imenso como esse nosso, ainda assim, às vezes parece que não é o bastante.

_ [ ... ]

_ Querida, vou dar uma saída. Devo voltar só amanhã a noite. Se quiser levar pra você alguma coisa que era nossa, tudo bem. Leva a chave também se achar que deve.

_ [ ... ]

_ Olha só... depois que sair não deixa bilhete, e-mail, essas coisas assim... se puder não deixe nada seu, por favor. Nem roupas, objetos nem nada. Isso vai me ajudar. Promete?

_ [ ... ] Prometo

_ Então tá... te cuida.
_ Você também.

5 comentários:

Camilla Dias Domingues disse...

Essa é a relação dos meus sonhos, sempre sonhei em ser uma pessoa dita "compreensiva" dessa forma, mas não ao contrário eu sempre quero quebrar tudo, sou problemática? ou sou humana?
na boa tô é cansada de nunca ser e agir como as pessoas querem que eu seja e aja... acredito que "ele" gostaria que eu tivesse sido assim com o fim de tudo mas como não fui foram cortadas todas as relações e num simples Clic na tecla Delete tudo foi excluído. Porque será que ninguém respeita os surtos das outras pessoas? é mais fácil tirá-las de perto ao lidar com a situação, creio que sim e depois ainda dizem haver sentimentos. Affff....

Camilla Dias Domingues disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Camilla Dias Domingues disse...

postei alguns comentários nos textos abaixo, olha lá e num deles fiz um pedido musical... tô no aguarde!

GIL ROSZA disse...

Camila menina... eu já tentei teorizar sobre isso muitas vezes e sinceramente, não acho que a culpa seja sua ou do “desassossego” que acompanha não só a você, mas a todos nós. Depois eu tenho medo de ter muita certeza sobre onde reinam a fantasia e o desejo humano, isso é quase sempre um perigo. O que gente sabe é que hoje em dia, os motivos para estar junto de alguém ou querer separar, não cabem mais dentro do modelo que o romantismo vitoriano inventou, essa coisa do folhetim, da novela das oito, essa coisa lisérgica de achar que estar a dois basta. Parece que isso não se encaixa mais no nosso individualismo. Parece que o “amor-ideologia” que é o que costuma justificar uniões de casais (não falo do amor como sentimento) que tatuam na própria pela o nome dos amados, não cabe mais naquilo que somos hoje, acho que é por isso, que pra muita gente anda dando errado, mas poucos têm coragem de encarar a coisa de frente, porque as raízes culturais que nos levam a aceitá-lo como a única razão para se viver são muito fortes. O que a gente sabe que é dentro desse modelo, os dois perdem infinitamente muito mais do que ganham, isso é fato.

GIL ROSZA disse...

Tem um soneto do Glauco Matoso que acaba resumindo o que eu disse acima:

SONETO 574 IDEALIZADO

Se amo não deito.
Se deito não trepo.
Se trepo me estrepo.
Amor é conceito.

Se faço no leito,
Não caio no laço.
Amor é cabaço.
Amor é conceito.

Amor é perfeito:
Quem dorme não peca.
Amor é soneca.

Amor não tem jeito:
Amor é distância.
Amor é de infância.