PEQUENO ENSAIO SOBRE O TEMPO,
O TÉDIO E O ÓCIO
Para todas as criaturas que vivem e morrem debaixo do sol, todos os dias são domingo e todas as horas são; agora, menos para nós, que somos homo e sapiens. A natureza tem lá os seus ciclos, mas hoje os achamos uma chatice, a prova disso é que depois de passarmos algumas eras sob o ritmo moroso da natureza, ficamos de saco tão cheio que demos até um nome para tudo isso; tédio.
Parece que foi depois de começarmos a olhar para o céu e a ter consciência da passagem do tempo, que começou nossa piração de querer contá-lo do nosso próprio jeito. Para garantir que dias e noites “parassem” de passar com a vagarosidade costumeira deles, dividimos os dois únicos períodos que conhecíamos até então, o claro e o escuro, em pequenos fragmentos numerados. Pode ser que seja baseado nesses números que cada povo inventou uma definição do que é ganhar ou perder tempo! Talvez a idéia no começo fosse ficar livre do ócio, que é ter pouco ou nada para fazer, e do tédio, que é estar completamente convencido que o tempo não passa.
Para complicar, começamos catalogar e dar nomes para a percepção dos efeitos que a passagem desses ciclos costumam causar em nosso corpo e na imagem que isso parece aos outros. Para tentar escapar daquilo que chamamos pasmaceira, inventamos uma rotina de quefazeres que repetimos metódica e diariamente como indispensáveis a vida. Mas e os quepensares? Quepensares não, pois além de só servirem para mandar Nietzsche pro hospício, não são muito eficazes contra a falta de quefazeres.
Contar o tempo serve também para nos manter presos tanto às lembranças do que passou, quanto à expectativa do porvir. Essa obsessão em estar atracado ao o passado e querer inutilmente saber como será o futuro, não nos deixa perceber que viver mesmo só é possível no agora, e um segundo de cada vez, equilibrando-nos sobre um fio de incontroláveis incertezas. É uma dança solitária e cega na ponta de sapatilha sobre a lâmina afiada do acaso.
Já os bichos, que segundo a nossa visão antropocêntrica, não são nem homo e nem sapiens, lidam com o tempo sem dar a mínima para agendas, compromissos, minutos, cronogramas, atrasos. Viver essa vidinha simplista é muito pouco para nós! Precisamos de complicação! Talvez tenha sido por isso que não aguentamos ficar muito tempo na boa como bonobos, trepando o dia todo, espreguiçando, catando piolhos e carrapatos nos pelos uns dos outros. Isso era ócio demais para aquilo que no futuro a gente iria fazer
Então é isso, entre um verão e um inverno há semeadura, há colheita, guerras étnicas, menstruação, fases da lua, casamentos, imolação de virgens para garantir fartura. Somos a formiga e a cigarra que Deus ajuda sempre que uma delas decide madrugar, mas também somos mão-de-obra barata, somos holerite, mais-valia, Karl Marx, Wall Street, escravidão, Henry Ford, Visa, vinte e oito dias, Nasdaq, o aluguel do apartamento atrasado e por último, somos pura culpa quando nos sentirmos ocasionalmente entediado ou pior; ociosos. Os almanaques, afirmam que a preguiça é um dos Sete Pecados Capitais, e que é Deus quem leva o credito pela invenção do trabalho, ao passo que para fins de causa e efeito, fica em qualquer cabeça vazia, o endereço da oficina do Diabo! O resto veio no vácuo e nem mesmo depois que aquele italiano teorizou sobre um tal; “ócio criativo”, a gente sossega! Por falar nisso, esse mês tem feriadão, que é quando todo mundo combina de desfrutar o ócio sem culpa, mas aviso; uma vez no ócio, sobra o tédio e como para ele não há remédio, resta-nos secretamente torcer para que o feriado passe logo para voltarmos à velocidade das coisas que já estamos viciados.
“Ticking away the moments that make up a dull day”
Para todas as criaturas que vivem e morrem debaixo do sol, todos os dias são domingo e todas as horas são; agora, menos para nós, que somos homo e sapiens. A natureza tem lá os seus ciclos, mas hoje os achamos uma chatice, a prova disso é que depois de passarmos algumas eras sob o ritmo moroso da natureza, ficamos de saco tão cheio que demos até um nome para tudo isso; tédio.
Parece que foi depois de começarmos a olhar para o céu e a ter consciência da passagem do tempo, que começou nossa piração de querer contá-lo do nosso próprio jeito. Para garantir que dias e noites “parassem” de passar com a vagarosidade costumeira deles, dividimos os dois únicos períodos que conhecíamos até então, o claro e o escuro, em pequenos fragmentos numerados. Pode ser que seja baseado nesses números que cada povo inventou uma definição do que é ganhar ou perder tempo! Talvez a idéia no começo fosse ficar livre do ócio, que é ter pouco ou nada para fazer, e do tédio, que é estar completamente convencido que o tempo não passa.
Para complicar, começamos catalogar e dar nomes para a percepção dos efeitos que a passagem desses ciclos costumam causar em nosso corpo e na imagem que isso parece aos outros. Para tentar escapar daquilo que chamamos pasmaceira, inventamos uma rotina de quefazeres que repetimos metódica e diariamente como indispensáveis a vida. Mas e os quepensares? Quepensares não, pois além de só servirem para mandar Nietzsche pro hospício, não são muito eficazes contra a falta de quefazeres.
Contar o tempo serve também para nos manter presos tanto às lembranças do que passou, quanto à expectativa do porvir. Essa obsessão em estar atracado ao o passado e querer inutilmente saber como será o futuro, não nos deixa perceber que viver mesmo só é possível no agora, e um segundo de cada vez, equilibrando-nos sobre um fio de incontroláveis incertezas. É uma dança solitária e cega na ponta de sapatilha sobre a lâmina afiada do acaso.
Já os bichos, que segundo a nossa visão antropocêntrica, não são nem homo e nem sapiens, lidam com o tempo sem dar a mínima para agendas, compromissos, minutos, cronogramas, atrasos. Viver essa vidinha simplista é muito pouco para nós! Precisamos de complicação! Talvez tenha sido por isso que não aguentamos ficar muito tempo na boa como bonobos, trepando o dia todo, espreguiçando, catando piolhos e carrapatos nos pelos uns dos outros. Isso era ócio demais para aquilo que no futuro a gente iria fazer
Então é isso, entre um verão e um inverno há semeadura, há colheita, guerras étnicas, menstruação, fases da lua, casamentos, imolação de virgens para garantir fartura. Somos a formiga e a cigarra que Deus ajuda sempre que uma delas decide madrugar, mas também somos mão-de-obra barata, somos holerite, mais-valia, Karl Marx, Wall Street, escravidão, Henry Ford, Visa, vinte e oito dias, Nasdaq, o aluguel do apartamento atrasado e por último, somos pura culpa quando nos sentirmos ocasionalmente entediado ou pior; ociosos. Os almanaques, afirmam que a preguiça é um dos Sete Pecados Capitais, e que é Deus quem leva o credito pela invenção do trabalho, ao passo que para fins de causa e efeito, fica em qualquer cabeça vazia, o endereço da oficina do Diabo! O resto veio no vácuo e nem mesmo depois que aquele italiano teorizou sobre um tal; “ócio criativo”, a gente sossega! Por falar nisso, esse mês tem feriadão, que é quando todo mundo combina de desfrutar o ócio sem culpa, mas aviso; uma vez no ócio, sobra o tédio e como para ele não há remédio, resta-nos secretamente torcer para que o feriado passe logo para voltarmos à velocidade das coisas que já estamos viciados.
“Ticking away the moments that make up a dull day”