domingo, 19 de dezembro de 2010


Foto e Photoshop: Sarolta Bán
 Para o sociólogo Jean Delumeau, o medo não é uma certeza sobre um evento negativo iminente, mas sim uma expectativa negativa em relação a esse evento, um desconforto ansioso causado justamente pela incerteza. A capacidade humana para refletir sobre o medo é uma característica forte o bastante para unir culturalmente quase todos os povos ocidentais em torno de uma única ideia; “Não desejar morrer, sofrer, nem perder queridos próximos, mas se isso realmente tiver de acontecer, que ocorra quase sem dor. Caso a dor seja inevitável, então que ela se torne honrosa como num sacrifício”.
Essa tem sido nossa milenar barganha com os deuses século após século imolando virgens, realizando oferendas, proferindo orações entre varias outras demonstrações de culto. É o que damos aos céus como expiação para encobrir pecados visando salvação, redenção ou a simples esperança de refrigério agora no presente e de um julgamento final favorável no futuro.
Segundo Delumeau, quando declaramos publicamente nosso amor incondicional ao divino, na verdade, o que estamos sentindo é um medo terrível deste ente supremo se aborrecer conosco e nos castigar na pele, quem sabe até coisa pior; atingindo os que amamos com mais sofrimento depois de uma morte sem paz. Toda vez que juramos fidelidade à alguma divindade demonstrando isso através de algum tipo de adoração, estamos mesmo é trabalhando em interesse próprio a fim de receber uma recompensa.
Caso existisse no imaginário humano, um deus que apenas nos observasse sem se apiedar, que nada pedisse, nem prometesse nada em troca de uma vida devotada a ele, seria o mais solitário dos deuses. Nunca haveria para ele um templo, um altar, uma classe sacerdotal, muito menos um rebanho disposto a segui-lo com fé.

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