quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A resistência em oposição ao preestabelecido é uma empreitada bem antiga, principalmente nas três primeiras décadas de vida de uma alma corsária. É um pouco mais tarde, porém, que dependendo de como se liquidifica a informação acumulada nos anos do front, que se faz necessário repensar antigas posições. Quando isso ocorre, dissidência e apostasia farão parte de uma nova posição ao se perceber que a rebelião já não funciona mais como antes, num mundo que tende a se renovar sempre.
Em plena era do egomarketing, pode ser uma boa questionar se a bandeira levantada nos Facebooks ou Twitters da vida é de fato um modo de vida ou apenas uma manobra poser autopromocional para se afirmar como membro efetivo de uma confraria que diz contestar algum establishment apenas porque está na moda. Isso pode se tornar tão surreal, que afirmar numa rede social qualquer, não seguir moda nenhuma, pode ser uma forma eficiente de criar uma nova moda, a "moda dos que não seguem a moda”!
Por isso o mercado hoje tem tanta facilidade em aliciar rebeldes, comprar a revolução criada por eles e fazer dela um produto capitalista, midiático, com potencial para render bilhões, como aconteceu com o Napster nos anos 90 e quem sabe aconteça um dia com o clã do Julian, tão logo fique definido na praça quanto vale o Wikileaks.
Numa sociedade narcisista que fotografa, grava, edita seus autorretratos, postando-os direto de seus próprios smartphones e ainda compete depois por seguidores, se declarar ambientalista, pacifista, comunista ou consumista, talvez não seja mais tão importante quanto tentar refletir sobre as razões para se aderir a uma causa e defendê-la.



Nem só o diabo veste Prada: o vídeo da ONG Bonfire of the Brands, tenta num tom evangelizador, usar a "culpa" ao trabalhar o consumo consciente em cima do maniqueísmo (o bem versus o mal). Acho esse proselitismo bem bacana, mas também bastante ingênuo, afinal, quem deseja uma marca, original ou pirata, vê nisso uma importância muito maior que o objeto adquirido. A marca é um fetiche, uma tatuagem emocional que ostenta uma posição social privilegiada ou o desejo de pertencer a ela.

Um comentário:

Camilla Dias Domingues disse...

diz-se apostasia para o abandono de tudo e sem volta, nas suas décadas de vida adentrou e saiu depois de várias modas, ideologia revolucionárias, amores românticos, se auto-afirmou de alguma forma, não?
talvez seja isso agora que a geração mais nova precisa, adentrar a todos esses modismos, se vender, consumir pra em algum estágio da perceber tudo isso e cair na real (ou talvez com algumas pessoas isso nunca aconteça).

PS: pena que o vídeo é em inglês e eu matei as aulas do curso na FISK para correr atrás exatamente de amores romanticos e auto-afirmação.