segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

As duas missões anteriores haviam falhado e para o atirador, aquela seria a terceira e última missão do ano. Ele se posiciona no alto de um prédio no centro velho da cidade, local ideal para vigiar entrada e saída de todos na rua. Ajusta o tripé, abre a maleta, retira e monta rapidamente o artefato. Com um binóculo varre o perímetro até localizar o alvo que veste calça branca de linho, camisa estampada com florais em estilo havaiano, chapéu panamá e sandálias de couro ecologicamente correto. Espera calmamente até que o alvo se fixe numa mesa na calçada em frente o bar. Em poucos minutos, aparece a jovem num vestido indiano lilás e parece muitíssimo interessada em cada coisa que o alvo lhe diz.
Para evitar uma possível banalização do serviço, o escritório geral mantinha regras rígidas de procedimento para os atiradores. Eles só eram escalados para três missões por ano e só podiam levar três dardos na aljava. Sabendo disso, nunca desperdiçavam oportunidades, a ordem era total concentração e atenção redobrada sobre o alvo. Após calibrar a mira e calcular a velocidade do vento, segura a respiração por cinco segundos e atira. Num movimento inesperado, o garçom que servia a mesa ao lado atravessa na frente da trajetória, a seta vaza-lhe pelas costas e crava no concreto da calçada.

Foto e Photoshop: Clinton Hussey para o Executive Search Dating (Canadá)
 A segunda tentativa ocorre uns minutos mais tarde. Antes, ele acende um cigarro, tira as luvas e aplica pó de magnésio nas mãos, tinha visto um companheiro fazer o mesmo. Em seguida, eleva em alguns milímetros a inclinação do tripé e após um breve ritual de concentração, dispara novamente. O acaso interfere mais uma vez quando o alvo se move alguns centímetros para o lado a fim de selar a boca da garota de lilás. Desta vez, a haste que passa raspando pelo alvo, fica enterrada até a metade na bunda de uma mulher que acabou de se levantar para atender o celular. O atirador levanta-se e caminha até a outra extremidade do prédio para esticar um pouco as pernas. Enquanto termina de fumar, fica pensativo observando o contorno iluminado da cidade. Quando volta à posição, o cenário havia sido alterado. A garota está agora bem mais perto do alvo. Pela mira telescópica o atirador vê quando ela pega com o seu hashi, um pedaço de camarão, mergulha-o no molho de raíz-forte e coloca-o cuidadosamente na boca daquele que parece corresponder sem reservas aos encantos dela. É nesse instante que acontece o terceiro disparo...

... Longe dali, horas depois.

O atirador se posiciona no topo de outro prédio. Tem daquele ponto, uma visão ampla e sem obstáculos do apartamento onde reside o seu alvo. Ele não estava lamentando a falta de sorte por ter falhado três vezes seguidas, o que pelas regras da administração, significava que teria de ser afastado do caso. Tinha seguido o alvo até casa dele, porque ficou obsessivamente curioso em saber como as coisas terminariam àquela noite e antes de partir, teve tempo de sobra para observar através do binóculo, a garota despir-se do vestido lilás, retirar do seio esquerdo a longa flecha ainda em chamas e finalmente, mais sorridente do que antes, sentar-se sobre a festa em riste que havia naquele momento no colo do alvo.

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