segunda-feira, 14 de março de 2011

“Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta”
                                                                            
Carl Jung.

A matéria-prima da fantasia sempre intrigou Carl Jung que se dedicou uma vez a estudá-la. Ele acreditava que num passado longínquo, bem antes de haver sociedade organizada e cultura, a mente humana teria desenvolvido um tipo de habilidade para processar pensamentos básicos de um jeito mais avançado. Não era conseguir resolver criativamente problemas complexos, envolvendo uma adaptação de recursos disponíveis no ambiente para transformá-los em instrumentos. Geralmente isso é definido por inteligência e está longe de ser um privilégio humano, pois é compartilhada por outras criaturas. Jung falava de algo novo, algo especialmente humano, uma surpreendente organização e administração mental de situações não conhecidas ou vividas, buscando relacioná-las com algum evento passado, presente ou futuro a fim de dar sentido às coisas observáveis. Essa capacidade de fantasiar com um grau de sofisticação jamais vista e inventar um simulacro da realidade, ainda que absurda ou não vivenciada, causou uma revolução na percepção do que os humanos viam em sua volta.
Quando os primeiros xamãs passaram a fazer registros orais das experiências diárias de seu povo, realidade e fantasia se misturaram fazendo surgir o Pensamento Mágico. Numa época em que tudo na natureza era obscuro, o termo "magia", iluminava respostas como única explicação possível para manifestações tomadas por sobrenaturais, ações divinas ou demoníacas. Na lógica do Pensamento Mágico, os sonhos, por exemplo, eram vistos como um estranho “mundo invisível” ligado ao mundo real através de um estado de inatividade temporária conhecida bem mais tarde por sono.
Para a jovem mente homo sapiens, adormecer era o único modo de entrar nesse “universo paralelo”, se comunicar com pessoas, coisas, animais, elementos e receber deles informações codificadas. Para sair, bastava acordar. Aqueles que por razão de doença, ferimentos graves ou idade avançada, não despertavam, a lógica infantil do Pensamento Mágico explicava que haviam ficado presos para sempre naquele mundo cheio de mistério.



 O Pensamento Mágico e o "Pensamento contemporâneo" travam um duelo difícil na mente do personagem Nullah, um menino aborígene em Austrália (2008).


PARA DESCER MAIS FUNDO, 6 LASTROS:

O homem e seus símbolos, Carl Gustav Jung, Nova Fronteira, 1977.
Presente e futuro, Carl Gustav Jung, Vozes, 1991.
A negação da morte, Ernest Becker, Nova Fronteira, 1976.
Ano 1000, ano 2000: Na pista de nossos medos, Georges Duby, Editora Unesp, 1998.
O medo à liberdade, Erich Fromm, Zahar Editores, 1978.
Quatro gigantes da alma, Mira y Lopez, José Olímpio Editora, 1988.

4 comentários:

Anônimo disse...

Gil, que artigo interessante. Lembro-me que você me disse que já foi xamã. O que você pensa hoje a respeito dos sonhos? Eu acredito numa mescla do que afirma a psicanálise com encontro espiritual. Abração, Carol

Anônimo disse...

Ah, vou anotar as sugestões de leitura. Me pareceram ótimas!

GIL ROSZA disse...

A psicologia vem vem estudando os sonhos e em termos de comportamento, tem achado muita coisa bacana. Gosto do Jung quando o assunto é esse, mas muitos acham que ele é mais xamânico que acadêmico e viaja demais na maionese, rsrsrs.
Pessoalmente, eu acho que quando alguma coisa de fato for descoberta sobre os sonhos, esse conhecimento vai estar no campo da neurologia e pisiquiatria (funções sinápticas) e não na psicologia (comportamento). É um chute sem fundamento de leigo-lego metido! Bjs.
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Sobre meu estágio como xamã, uma hora, online, explico com calma. rsrs.

CAROLINA BERNARDES disse...

De xamanismo eu não entendo nada. Seria interessante uma hora dessas você explicar direitinho. Quem sabe uma postagem feita por um lego nada leigo? Não li muita coisa sobre as viagens de Jung pela maionese dos sonhos, mas li a respeito do que os sonhos representam na vida espiritual. Talvez não seja o melhor que os sonhos fiquem apenas na área da neurologia e psiquiatria... Tem um lance a mais nessa história...
Não me deixe ignorante sobre xamanismo,ok?
Beijos