domingo, 6 de junho de 2010

Infelizmente não tenho mais condições de voltar crer nas coisas que com o tempo fui deixando de acreditar, mesmo assim estou me preparando para retornar ao meu antigo clã, onde fui xamã. Os motivos são sempre os mais egoístas possíveis. Estou ganhando anos a mais e muitas marcas num corpo já gasto. Isso me induz procurar estar mais perto dos que poderiam me propiciar certos cuidados, o que não muda nada diante da aproximação da total falência física e mental que cada ano vivido adiciona à sorte de quem se atreve a viver tanto. Por mais que se pense estar preparado, o medo de que as forças falhem num momento em que se esteja só, sem um sorriso de afago é muito forte. Meu afastamento destas coisas me possibilitou enxergá-las de uma forma diferente, compreender um pouco dos mecanismos que são usados para sustentá-las e as razões pelas quais são socialmente necessárias e preservadas tradicionalmente num antigo culto.
Viver por tanto tempo distante nesse vácuo sem nome, longe dos rituais que fornecem a todos não só identidade, mas a reconfortante ilusão de se ter alguma utilidade, tem um preço alto quando se opta por fazer isso no isolamento. Sei que ao retornar aos meus, serei bem recebido e aceito novamente como o membro de sempre, mas no meu íntimo, não sou mais o mesmo, pois as quarenta noites no deserto me deram novas referências, novos pontos de observação e possivelmente o que mais busquei, a ausência de certezas, a confirmação de que não era verdadeiro o dom da clarividência que por anos eu pensava possuir.

3 comentários:

Camilla Dias Domingues disse...

o isolamento que pra mim tem nome de solidão proporciona isso, o entendimento de algo negligenciado, mal cuidado ou até mesmo mal entendido.
retorne aos seus e trabalhe esse corpo que ainda tem muita vida (digo no sentido do prazer mesmo).

Unknown disse...

Não consigo t ver de novo como xamnan. será q vc consgue?

GIL ROSZA disse...

hummm. eu nunca fui xamâ, mas o cara da crônica talvez consiga, pelo menos parece que quer =)