terça-feira, 15 de junho de 2010

Há na morte inúmeras vantagens quando comparada ao estar amando, talvez a principal delas seja a total ausência de expectativas em relação à você próprio e ao ser enamorado, afinal, onde não há um conjunto de metas inalcançáveis a serem alcançadas, não há frustração, uma vez que na morte, a igualdade de condições anula a necessidade de encenações, de promessas, dos jogos sociais de interesses tais como os que se costuma esconder na primeira fase dos encontros. Contudo, o melhor de estar morto em relação a estar amando é não mais ter a obrigação de se submeter a cansativa tarefa de inventar as mentiras de manutenção, tão essenciais para os que estão unidos numa pantomima romântica. Sem tais mentiras, as pernas finas do amor se quebram com facilidade, fazendo-o cair ruidosamente, pois para se viver em paz com o amado é preciso antes de tudo, mentir. Mentir para entrar num relacionamento, mentir para permanecer nele e ironicamente, apenas para sair é que as verdades são cruelmente descobertas e postas à vista.
Há também outro aspecto não menos importante, onde o estar morto oferece mais uma grande vantagem em relação ao estar amando; a oportunidade única de experimentar a absoluta ausência de medo, porque quem está amando se alimenta exclusivamente de medo. Há o medo de perder o que se acredita ter a posse, perder o que se pensa estar sendo compartilhado em partes iguais. Por isso a obsessão dos amantes em proteger o tempo todo os amados. Some a isso, como característica dos que esperam ser supridos pelo amor, o medo da solidão que assola a todos desde o berço, o medo da separação, o medo de parar de receber a dose diária do ópio que sustenta a segurança falha e a falsa cumplicidade desse tipo de encontro. Finalmente, o que sobra entre tais medrosos, é o medo ter o objeto do desejo roubado por um outro, que se mostre melhor e mais desejável. Isso é o que faz crescer consideravelmente dentro do corpo hospedeiro, a dúvida que seca de medo o fígado dos ciumentos. No entanto, ao estar morto, paira sobre essa inexistência, o sossego de certezas que não podem mais ser removidas. Estar morto é, em fim, o fim de todos os medos, o desfrutar de um estado de graça que somente quando comparado a maldição do amor é que se passa a compreender plenamente que a danação eterna é feita do mesmo tecido vivo do estar amando.

"Se não me engano, infelizmente ainda restam mais quatro"

3 comentários:

Thaissa Costa disse...

A morte é a saída mais fácil de qualquer situação. Fato!!! Eiii, já viu meu blog de roupinha nova??? Dá uma olhada. beijos

Unknown disse...

Li a primeira vez, achei que entendi e depois não entendi. Depois li de novo, mas dessa vez li pelo avesso. Assuatador, mas sofisticado!

Camilla Dias Domingues disse...

a morte, como o amor me remete a incerteza, vivo por ela sendo assim, amo e morro a cada vez.