terça-feira, 13 de abril de 2010

A promessa feita por ocasião do encontro considerava como certa a possibilidade de isolarem-se em torno um do outro. Em tese, essa é a regra das relações baseadas no que é popularmente aceito como tradicional, no entanto, como o mundo vasto não se chama Raimundo e mais vasto ainda é o nosso coração, nem todos conseguem viver fechados sem os conflitos do estar fechado. Por mais que exista uma promessa sincera de devoção exclusiva ao outro em dar de seu tempo, de sua vida, e até mesmo para quem afirma solenemente não desejar abrir mão de sua cumplicidade e compromisso para sempre, há sempre o risco presente de que algum Francisco entre secretamente nos sonhos daquela que estiver mais destrancada às possibilidades. Isso aconteceria quietamente, sem muito alarde e nenhuma necessidade de contar ao que dorme e sonha no travesseiro ao lado, que um terceiro objeto tem descansado nos pensamentos dela, nem que seja apenas por alguns minutos por dia, para depois se levantar, ir embora e voltar quem sabe no dia seguinte.

O fragmento de texto do Puig é um empréstimo que peguei com a Camilla.

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- (...) E aí conheceu um rapaz da seção de política. Viu logo que precisava dele, que a relação com o outro estava esvaziada.- Por que esvaziada?- Tinham dado um ao outro tudo o que podiam. Eram muito agarrados, mas jovens demais para ficarem naquilo, ainda não sabiam direito... o que queriam, nenhum dos dois. E... Jane propôs ao rapaz uma abertura na relação. E o rapaz topou, e ela começou a se encontrar com o companheiro da revista também.

(O beijo da mulher aranha - Manuel Puig)

6 comentários:

Camilla Dias Domingues disse...

legal esse trecho né???

Unknown disse...

vc falou de uma coisa bem comum. os conflitos, as dúvidas de quem se permite prender, mas não tranca a porta. embora eu ache que as relações abartas são tão fantasiosas quanto as fechadas. a gente é muito complicado garoto, acredite!

GIL ROSZA disse...

disse bem Dani, somos complicados a beça! acho que a fantasia é a vaselina que a gente usa, pra não doer tanto na hora, o que é bom pq se for doer, só dói depois né?

GIL ROSZA disse...

sim Camilla! adorei. aliás, seu blog de compilações é ducacete! super bem editado.

Caderninho Roxo disse...

ah...a ilusão do início dos relacionamentos...e viveram um para o outro...este isolamente é o fim de uma relação, não é!?! já o vivi algumas vezes :-S
tem um texto do veríssimo q diz que o que sustenta uma relação é uma linha frágil, que precisa ser reforçada diariamente...acredito nisso!

GIL ROSZA disse...

nossa... camilla albany, gostei da expressão q usou; "relacionamento". eu sempre uso essa palavra em substituição a palavra "amor" ao falar do encontro e do desencpntro das pessoas. acho essa palavra mais ajustada a situação real que temos de lidar ao tentar conviver com alguém. tenho achado "amor" um termo um tanto vago e nem sempre confiável.