sexta-feira, 16 de abril de 2010

Acho que aquele tinha sido um dos melhores anos da minha vida até então. Na soma, tudo estava indo muito bem. Bem no trabalho, bem no amor e no sexo com Tereza, bem no trato com as crianças, com os amigos, com planos, com a saúde, enfim, uma vida segura e confortável, dentro do que isso talvez signifique para cada um. Tudo estava cercado da normalidade a que todo homem de família poderia esperar. De repente foi assim, numa hora de calmaria, sentado no Posto Seis no finalzinho da tarde esperando Tereza voltar do apartamento de uma amiga do trabalho. Foi sem vontade alguma, sem mais nem menos, fui tomado por uma compulsão de querer saber dos porquês mais sem porquês da existência humana! Por mais que eu tentasse distrair a mente com alguma outra coisa, por mais que tentasse prender meus pensamentos em qualquer outro ponto, todo e qualquer esforço de conseguir isso, parecia inútil. Enfim, chegou Tereza, chegou a noite, chegou madrugada, chegou dia claro e eu ainda preso naquilo que sequer sabia mais, catalogando, especificando, definindo, buscando, tentando achar alguma coisa, um significado. A partir de então, e sem explicação alguma, sem motivo justificável, toda aquela paz que eu imaginava ter com Tereza, com as crianças, com os amigos e com tudo mais, foi se distanciando aos poucos, sumindo, até ficar tudo mudo, incerto, sem guias, completamente à deriva, num mar aberto sem fim.

2 comentários:

Camilla Dias Domingues disse...

bonito e trágico, isso é a existência humana.

GIL ROSZA disse...

sim. é tbm uma micro cronica sobre a solidão, essa coisa que a gente passa uma vida inteira tentando curar até descobrir que ela não uma doença.