sábado, 7 de maio de 2011

InMagine



































Primeiro, pensei ter ouvido um soluço, depois juntei as sílabas e o que veio audível pela segunda vez, foi um nome sussurrado_ Elisabete. Amiga de muitos anos, das festas de aniversário dos nossos filhos, das férias juntos na casa em Maricá. Então em sussurros, sem demonstrar surpresa ou reprovação, o deixei perceber que meu corpo também se alimentava daquele estímulo. O ato prosseguia sem pressa e perguntei-lhe direto no ouvido se já tinham consumado o que até ali parecia ser só um desejo. Ele jurou que não. Que tudo não passava de um tesão contido, incapaz de ir além da própria vontade. Tomei aquilo como verdade, de fato era. Depois da confissão em sussurros, começou a se sentir seguro ao perceber não haver em mim, sinal algum de desaprovação. Com isso, o nome dela sempre aos sussurros soava cada vez mais alto no quarto e a noite seguia passando brilhosamente acetinada até ter o seu fim em um sono calmo, brando e quieto.
Na manhã seguinte, à mesa posta, o café, a margarina light, a cesta de pão, a leiteira e uma paz engomada sem uma só palavra apontada como pergunta pontiaguda ou cobrança. Mais tarde, já na cama, imaginei que o nome Pedro pronunciado num sussurro, planaria leve até o ouvido dele. Confesso; jamais vi um homem tão possesso! Pulou da cama com boca espumando, acendeu a luz e aos gritos, começou a me acusar de tudo. Vestiu a primeira coisa que viu pela frente, passou a mão na chave do carro e saiu como um louco àquela hora da madrugada. Até agora não voltou.

4 comentários:

Unknown disse...

Interessante como este conto me fez lembrar quantas vezes precisei trepar com a garganta contida para não gritar um nome estranho ao momento. Isso é tão comum de no entanto não é aceito. Creio que nunca vai ser.

GIL ROSZA disse...

É isso aí, ao contrário da fantasia masculina, o velho casamento institucional não permite mesmo que a fantasia feminina com um outro exista fora dos limites da clandestinidade.

natalia disse...

Ah, os estáveis relacionamentos sérios e seus pequenos segredinhos...

CAROLINA BERNARDES disse...

Terá ido atrás de Elizabeth?
Gostei muito. Em janeiro, dei um curso de Escrita Criativa e um dos exercícios era uma imagem de família feliz, como as de propaganda de margarina. Pedi que imaginassem algo inusitado ocorrendo, que realmente surpreendesse. O seu conto foi o melhor! Perfeito. Quando sairá o livro? Beijo