domingo, 20 de março de 2011

Ninguém sabe o que é solidão até que a violação de um tabu transforma o transgressor num tabu. Poucas pessoas sentiram isso tão forte na própria pele quanto Darwin. Nascido e educado numa família anglicana, casado com uma mulher de profunda convicção religiosa e devoção, ele literalmente adoeceu e definhou ao longo dos anos em que escrevia sua controversa interpretação da natureza. A dúvida era se devia mesmo publicá-la, pois sabia que isso certamente desagradaria todo um sistema estabelecido que ainda hoje sustenta para milhões de crentes os fundamentos de uma identidade humana.
O interessante nessa história, é que a idéia de uma ancestralidade animal não é original a Darwin, mas encontra-se presente na obra Zoonomia (1792) de seu avô, Erasmus.



Nossa parcela animal, o elo que nos liga à natureza é também uma visão comum nas epopéias e mitologias milenares. Talvez as menções mais antigas dessa associação de uma origem comum entre bichos e pessoas, datem do início da idade do bronze, com os cultos que buscavam identidade num animal totêmico como ancestral e originador das pessoas que o adoravam.
Convivemos há tanto tempo com esse animal-interior que sequer percebemos que alguns elementos totemistas estão presentes atualmente no pensamento islamico-judaico-cristão, exatamente como constam no folclore e lendas do imaginário popular de muitos povos.

Anjos > humanos + aves
Lobisomens > humanos + lobos
Sereias > mulheres + peixes
Faunos > homens + bodes
Centauros > humanos + cavalos
Vampiros > humanos + morcegos
Baphomé (demônio) > mulher + dragão + bode
Minotauro > homem + touro
Demônios > humanos + dragões
Harpias > mulheres + águias
Anúbis > humanos + chacais
Bastet > mulher + gato
Ganesha > humano + elefante
Sun Wukong > humano + macaco

2 comentários:

CAROLINA BERNARDES disse...

Que informação interessante você passa com esta postagem! Jamais li algo que associasse o homem com animais, pela vertente de Darwin. Adorei os exemplos no final, principalmente o da "mulher demônio" - coitada! Tem um monte dessas por aí... Eu me identifico muito com o centauro, é uma figura bem significativa para mim. Cada pessoa tem um totem? bj

GIL ROSZA disse...

Olha Carol... não tenho certeza, mas pode ser que a ideia do animal totemico como signo seja uma influência recente do horóscopo chinês. No xamanismo antigão, a pessoa não se via como ser humano, não "tinha" um animal totemico, ela era o próprio.