quinta-feira, 12 de agosto de 2010

E ele disse_ Cê tá de sacanagem! Finalmente sacou que por baixo do meu saiote inofensivo de senhor respeitável, havia um pirata! Nem mesmo a barba grisalha espetada de dias sem fazer e as grandes olheiras de panda, conseguiram fazê-lo acreditar que guardo no bolso uma bandeira negra com crânio cinzento e duas tíbias cruzadas. Acho que não esperava que revelasse meu cínico descaso por algumas coisas que o século XX costumava cultuar como valor durável e que hoje as vejo virando sabão em pó escorrendo pelo ralo.
Quando me perguntou se eu não tinha medo destas coisas se perderem pra sempre num mundo cada dia mais líquido, respondi que já tive sim esse medo, já quis que durassem pra sempre, mas hoje não importava mais, afinal, diluir é uma das funções do tempo e na prática, quase tudo já havia mesmo se perdido há tempos. Talvez seja boa coisa aceitar que elas ficarão melhor em seus túmulos digitais, arquivadas sem empoeirar, diagramadas nos verbetes linkados na Wikipédia.



"Eu quero mais erosão, menos granito, namorar o zero e o não"

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