E não é que tava a gente ali outra vez, deitados nus, atravessados na cama e com os pés na parede. Minutos antes eu havia botado D´yer Mak´er do Led Zeppelin pra tocar, sendo que bem antes de tudo isso, a intenção era mesmo chegar, transar e somente depois fazer um pene usando a receita que ela havia visto num programa de tevê. Em vez disso, ficamos ali olhando para o teto, conversando bobagens horas a fio. O tesão havia passado misteriosamente, mas a vontade de conversar foi o que ficou naquela pausa entre as horas. Falamos basicamente sobre coisas sem importância alguma, coisas do dia-a-dia, multas de trânsito, problemas no trabalho, menstruação atrasada que de repente cismou de chegar, algumas reclamações, resmungos, pequenas preocupações da semana que apenas na hora parecem sem solução. A cada coisa dita, íamos chegando a conclusão que não havia mesmo como escapar das repetições que nos cercam nessa vida urbana, pequeno-burguesa, tendendo a algumas insatisfações. Nós, acostumados a essa gaiola de onde vamos tocando a vida correndo atrás de abstrações coletivas como felicidade, identidade, prazer, significados, segurança, futuro, amores, projetos, conquistas, planos e outras coisas que em principio nos parecem de suma importância. Era isso que a gente chamava de repetições. Enquanto eu fazia o molho para o pene na cozinha, ela estava com o notebook na cama, caçando algum paquera secreto numa sala de bate-papo, e por mais que na semana procurássemos por alguma novidade, uma viagem de férias a um lugar que ainda não fomos, algo que nunca fizemos como ligar para um michê que deixou numero do celular no twitter, e chamá-lo pra fazer um “ménage”, quem sabe, sair pra comer comida tailandesa, adotar um gato de abrigo, ou qualquer coisa que logo, logo, passaria, gastaria, ficaria velha, chata, enjoada. Talvez o tédio seja a única verdade sincera sobre o que nos cerca e tentar vencê-lo fazendo alguma coisa, seja o que de fato traga mais frustração e mais tédio. Talvez seja inútil o teatro que criamos e encenamos diariamente para tentar driblar a constatação de que não há nada realmente novo sob o céu. Talvez aquilo que o Drummond chamou certa vez de “vida besta” seja afinal de contas, a grande essência do que compõe tudo o que vive e morre debaixo do sol.
Marielle: O seu silêncio é a nossa voz!
Há 6 anos
5 comentários:
Nossa fico sem palavras...
ah vc é demais!
depois da nossa conversa de hoje a tarde, cada vez mais pago um pau pra ti, beijos querido.
Aproveitar cada dia, desse tédio diário, para que cada amanhacer, seja mais um tempo, sem tempo, sem tédio, sem tempo, sem tédio....
Ê Gil, essa foi pra mim é? kakakakaka. Fiquei passada!
Bjão querido. Quando puder
skype-me, ta?
ah porque vc só skipe-me com ela???
kkkkk... eu só instalei por sua causa e até hoje nada de skipe-me...
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