domingo, 3 de abril de 2011

Houve um tempo que era preciso odiar comunistas porque eles “comiam criancinhas” e os comunistas por sua vez, odiavam religiosos, porque religião era o “ópio do povo"! O tempo passa, o que não passam são os "motivos justificáveis" para odiar o que cada lado considera repulsivamente ser o seu oposto. Recentemente o jornalista da Globo News, Caio Blinder, comentou que em vários lugares da Europa e nos Estados Unidos, está havendo uma espécie de ressurreição da direita extremista de língua furiosa. Segundo ele, o alvo desta vez, não são invasores comunistas, que já não representam mais tanta ameaça quanto durante a Guerra-Fria. O objeto das ações e declarações de ódio, agora, são imigrantes vindos de países pobres, homossexuais, evolucionistas e muçulmanos.
No Brasil, que vem passando nos últimos anos por uma grande reforma religiosa e onde uma parcela da sociedade é reconhecidamente sexista, racista e homofóbica, não é de estranhar que um dos citados no caso mais falado da semana passada, justifique o noticiado da seguinte maneira:

“O que a família Bolsonaro faz nada mais é do que valorizar conceitos e valores da família, valores éticos, valores morais e certamente isso incomoda muita gente”.

Usar valores morais e a defesa de bons costumes como desculpa para o “discurso do ódio” não é novo e foi feito com sucesso por nazistas, contando na época com franca aceitação popular. Aliás, basta conhecer um pouco de história, para perceber que reunir simpatizantes, sempre foi um dos objetivos do marketing da intolerância, seja ela religiosa ou política. Não é difícil cooptar mentes a procura de se encaixar em uma identidade coletiva. Dos jovens mártires de Alah, passando pela conhecida xenofobia das torcidas espanholas dirigida à jogadores estrangeiros, fazer do ódio gratuito um tipo de ícone pop de consumo para os que se consideram religiosamente “escolhidos” ou socialmente “superiores” não é incomum, principalmente em países formados por um certo pluralismo cultural.
Nos EUA, por exemplo, o que anda tomando corpo é usar a bandeira dos “valores morais e de família” para a propagação do ódio como uma causa cristã legitima. Na semana passada, o pastor da Igreja World Outreach Center, Terry Taylor, finalmente cumpriu a promessa de queimar o alcorão diante das câmeras de TV. Outra prova da insanidade alimentando ataques extremistas em “nome de Deus” contra “pecadores” pode ser vista pela cruzada da Igreja Batista Westboro, apelidada de “Igreja do ódio”. Para ela, homossexuais devem queimar no inferno porque como consta em seu conhecido slogan: “God hates fags” (Deus odeia veados)!


Para Ken Pagano, pastor da Igreja New Bethel, no Kentucky, andar armado não é pecado.

A julgar pela quantidade considerável de expressões de solidariedade e aprovação que os Bolsonaro receberam pela internet, inclusive com colaboradores "hackeando" e tirando do ar o site da Preta Gil ou postando textos bíblicos no site da ABGLT, não é difícil imaginar que tais promotores dos “valores morais e familiares” já não estejam semeando por aqui, algo que esperam colher no futuro.
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O Manual da Lavagem Cerebral:

Brainswashing - The Science of Thought Control
Kathleen Taylor, Oxford University Press, 2006


3 comentários:

MN disse...

ótimo texto! concordo!

natalia disse...

Gil, vc é mto foda pra escrever artigos, menino!
Super Bjo.

Giovana disse...

Aff, costumo dizer que isso me dá uma preguiça...