domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ilustração: American Issues Project



























Chega uma hora que infância precisa acabar. Não tanto pelo desejo de que isso aconteça, mas pela necessidade de ganhar um tipo de resistência que não é possível ser obtida vivendo numa infância. Para uns, o fim da infância chega bem cedo na vida e para outros um pouco mais tarde, dependendo do tipo de cerca de proteção que existe em volta.
O fim da infância é o começo da consciência das próprias dores, da percepção da solidão, da constatação de que não adianta ficar se lamentando, pois nada é justo ou injusto. Na infância, aqueles que pensam ser protetores, administram periodicamente em uma mente pueril e sugestionável, doses concentradas de ilusão para impedir que a dor se propague numa forma mais intensa. Para cada realidade crua, há uma “mentirinha de amor”, a fim de amenizá-la, um eufemismo homeopático para tentar proteger o querido do sofrimento. Com o fim da infância, nota-se que o efeito desse alucinógeno, passa mais rápido a cada dose e logo surge a necessidade de achar novas “mentiras benignas” mais potentes para anestesiar o desconforto das frustrações e das perdas.
Reza a lenda que num lugar ainda não encontrado, há uma papoula mitológica de onde se extrai a felicidade. Acredita-se que o efeito analgésico desse ópio seja tão poderoso, que faria o sofredor esquecer por tempo indeterminado que dor constante é tudo o que existe.