Ninguém sabe o que é solidão até que a violação de um tabu transforma o transgressor num tabu. Poucas pessoas sentiram isso tão forte na própria pele quanto Darwin. Nascido e educado numa família anglicana, casado com uma mulher de profunda convicção religiosa e devoção, ele literalmente adoeceu e definhou ao longo dos anos em que escrevia sua controversa interpretação da natureza. A dúvida era se devia mesmo publicá-la, pois sabia que isso certamente desagradaria todo um sistema estabelecido que ainda hoje sustenta para milhões de crentes os fundamentos de uma identidade humana.
O interessante nessa história, é que a idéia de uma ancestralidade animal não é original a Darwin, mas encontra-se presente na obra Zoonomia (1792) de seu avô, Erasmus.
Nossa parcela animal, o elo que nos liga à natureza é também uma visão comum nas epopéias e mitologias milenares. Talvez as menções mais antigas dessa associação de uma origem comum entre bichos e pessoas, datem do início da idade do bronze, com os cultos que buscavam identidade num animal totêmico como ancestral e originador das pessoas que o adoravam.
Convivemos há tanto tempo com esse animal-interior que sequer percebemos que alguns elementos totemistas estão presentes atualmente no pensamento islamico-judaico-cristão, exatamente como constam no folclore e lendas do imaginário popular de muitos povos.
Anjos > humanos + aves
Lobisomens > humanos + lobos
Sereias > mulheres + peixes
Faunos > homens + bodes
Centauros > humanos + cavalos
Vampiros > humanos + morcegos
Baphomé (demônio) > mulher + dragão + bode
Minotauro > homem + touro
Demônios > humanos + dragões
Harpias > mulheres + águias
Anúbis > humanos + chacais
Bastet > mulher + gato
Ganesha > humano + elefante
Sun Wukong > humano + macaco