Não conseguir enxergar-se como um ser completo e perceber-se apenas como “metade da laranja” é o drama central do Mito do Andrógino, uma popular fábula grega sobre uma criatura que se sente incompleta e só vê sentido na existência, quando conectada a uma figura externa transformando-se finalmente, numa única criatura que vive num mundo apartado de todo o resto, se alimentando um do outro. É bonito, embora alguns saibam que mesmo numa convivência diária aparentemente satisfatória, a presença física de alguém ao lado, não garante o fim da sensação de se estar só. A crença na ideia de que uma paixão externa é a única coisa que pode fornecer reais motivos para se continuar vivendo é o doce engano cometido por quase todos a vida inteira.
All is full of Love; Björk transa com ela própria e mostra que extrair amor de si mesmo pode não ser tão absurdo quanto parece.
Se a mendicância pela atenção e pelo afeto vindo do outro não fosse tamanha, e se isso não obstruísse os canais de percepção, muito mais pessoas se dariam conta de quanta satisfação poderiam extrair delas mesmas, fornecendo as razões necessárias para quase tudo na vida.
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Ao “desmontar” o mito do Andrógino em Eros e Psiqué, Fernando Pessoa usa no poema o mesmo título de outra conhecida fábula grega para sugerir que o culto ao amor-próprio pode ser satisfatório e determinantemente possível.