sábado, 15 de setembro de 2012




Foto: Pichaus

O ano era 1603 durante o xogunato de Tokugawa. Dois samurais se enfrentavam na manhã de um dia comum e a razão para estarem lutando era desconhecida. O que ficava nítido ao olhar para os guerreiros em combate é que ambos pareciam ter as mesmas habilidades e a mesma força. Atacavam e se defendiam sem que os observadores pudessem dizer quem estava em vantagem ou desvantagem.
Eles lutaram durante todo aquele dia até entrarem pela noite, onde em campo aberto, na escuridão só se podia ver as centelhas produzidas pelo choque de suas lâminas. Ao amanhecer os dois estava lá, sem dar o mínimo sinal de exaustão. Com isso, findou-se mais um dia, mais uma noite e a luta entre os dois estendeu-se até semanas.
Quando a luta completou meses sem um vencedor, as pessoas da vila foram aos poucos deixando de ver aquilo como um acontecimento e passaram a se acostumar com o tilintar das espadas dia após dia, noite após noite.
Ao findar o primeiro ano, algo diferente aconteceu. Ninguém ouvia mais o toque metálico das espadas e todos foram ao local do combate na esperança de saber o resultado daquilo que parecia interminável.
O que viram não foi um vencedor, nem um vencido, mas dois guerreiros paralisados em posição de ataque. Não estavam mortos, apenas postados um de frente ao outro de olhos abertos, músculos retesados, prontos para desferirem mais um golpe. Nada os tirava daquele estado, não se falavam, não respondiam. Permaneciam quietos e mudos, imóveis, um de frente para o outro.
O tempo passou e em torno dos adversários construiu-se uma praça até então, sem nome. Em torno da praça, a pequena comunidade agrícola crescia e se modificava.
Passados assim 400 anos, o vilarejo de outrora é hoje uma das maiores e mais modernas metrópoles do país. Foi quando numa manhã comum, um grupo de pessoas que naquele horário cruzavam a Praça dos Samurais presenciou algo insólito. Uma das estátuas, num movimento rápido, mudou sua posição e desferiu um golpe rápido em direção ao pescoço de seu oponente, que num movimento de corpo notavelmente veloz e preciso, usou sua espada para habilmente interceptar o golpe.

domingo, 2 de outubro de 2011

Adoro a ideia do encontro, seja para namorar, trocar carícias, transar ou compartilhar momentos bacanas. O problema que há séculos estraga a utilidade dos encontros não é o amor, mas o romance.
Aliás, para ser justo, não propriamente o romance, mas o modelo de relacionamento que o veste.
Devido a uma série de erros de definição, amor e romance são equivocadamente vistos como a mesma coisa, quando na verdade não são.
Para piorar, há uma imensa horda de carentes alimentados por folhetins e comédias românticas, acreditando piamente que viver um romance é a síntese do que existe de melhor na vida. É justamente nesse ponto que os envolvidos passam a ser ver como propriedade um do outro, em alguns casos, até com certificado, firma reconhecida e autenticada, tal como a gente faz quando compra um automóvel ou um imóvel.
Certamente, o tesão e encantamento nesse primeiro momento, não permite a ninguém enxergar muito bem o que significa virar propriedade de uma outra pessoa.


As passionalidades do romance: muda o figurino, a história é que não muda.

Ser tornar objeto de posse sob as bênçãos do amor, automaticamente produz uma reserva de ciúme que vai se acumulando num cantinho do fígado, local apropriado, já que o ciúme é uma bile negra, uma peçonha altamente tóxica que ao entrar na mente dos amantes é capaz de fazer o mais doce dos enamorados se transformar num agente disposto a tudo para não perder para outro, o seu objeto de afeto e caso isso aconteça, as consequências para todos podem vir a ser desastrosas, como pode ser medido pelo número de assassinatos de mulheres no Brasil, onde na totalidade dos casos, o autores são companheiros e ex-companheiros, gente como qualquer um, que atuando segundo modelo possessivo aceito, fez em épocas de paz, juras acetinadas, tirou fotos exibindo ternura, fez planos a longo prazo, deu caixa de bombom junto com coração de pelúcia, comemorou períodos de união e certamente jurou um amor que julgou que jamais terminaria.

sábado, 1 de outubro de 2011

Acabei de ler um artigo na Bravo falando sobre uma provável crise de alguns racionalistas de carteirinha. O texto cita o maior representante do chamado movimento Dogma 95, Lars Von Trier e seu último trabalho, o belíssimo apocalíptico Melancolia. Pessoalmente eu não acho que o racionalismo esteja em crise, talvez o que temos vivido hoje seja uma reorganização de um estado que sempre esteve presente desde o começo da civilização, onde crédulos em pânico buscam avidamente seguir alguma coisa que aplaque esse nosso pavor universal da aniquilação repentina ou que garanta refrigério pessoal ou familiar numa pós-existência material.
Depois que a rede deu a todos espaço e coragem para defenderem suas convicções e atrair prosélitos, a voz racionalista deixou de ser a única a ecoar pelos megafones (leia-se; editoras, jornais, radios, TVs e outras mídias) no vasto e medonho deserto daquilo que jamais teremos controle; o acaso.



Ao contrário do que foi no século XX, a “impopularidade” dos racionalistas atualmente, talvez se deva ao fato de que ninguém gosta muito de ser lembrado que a humanidade é extremamente vulnerável e não há promessa, ritual, oração, oferenda, reza forte ou pensamento positivo que possa salvá-la hora H.